30.3.07

Embate Criativo

Cassaro faz "poesia para ser carregada e exibida em dispositivos dotados de écran portáteis ou não", e seu autômato de papel-espelho é "parte integrante do projeto inclusão robótica social". Sem provocar um embate do tipo futuristas russos versus futuristas italianos, o trabalho de Casaro provoca respostas e posicionamentos locais à tendências homogeneizantes (apud Moacir dos Anjos). Atualmente, o artista está expondo na Galeria Laura Larsiaj. Há vários vídeos na Internet, inclusive o do cosplayers-transformers.
UPDATE (22:00): o vídeo do Aeromamulengo é um ticker poético. Já o vídeo dos Cosplayers é para inspiração. Ambos vistos, de confesso, a posteriori. Aqui há mais (notar o outrocicloide).

28.3.07

Rubik Espelhado

A instalação "infinito ao cubo", de Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti, é uma quimera entre o tesseracto e a sala de espelhos dos parques de diversões (essa é a impressão ao se ler o texto do release). A proposta, segundo o mesmo texto, é criar algo "apenas matematicamente impossível". Nossa curiosidade foi despertada. A instalação ficará exposta de 1 de abril a 6 de maio, na Pinacoteca, em São Paulo.

23.3.07

Wonder Woman

Projeção de "Super X" na fachada do Itaú Cultural, na noite de 20 de março. Regina Silveira antecipou o Graffiti Research Lab!

21.3.07

Trangressão Pós-nacional

A transgressão é o outro lado da medaille d'honneur do consenso, diz o caolho escocês. Tem artistas que levam isso ao pé da letra, como o austríaco revolucionário Oliver Ressler, que enviou para a gente o pôster do projeto Holy Damn It - About the Urge of Radical Answers, uma produção em massa de convocatórias contra a Cúpula do G-8, que vai se reunir de 6 a 8 de Junho em Heiligendamm, Alemanha.

20.3.07

O Prank do Fim do Mundo


MENSAGEM AOS HOMENS DE BOA VONTADE: NÃO SE ENCLAUSUREM NOS GRILHÕES DE SEUS COMPORTAMENTOS INCONSEQÜENTES E CRIMINOSOS. SALVEM URGENTEMENTE O NOSSO PLANETA!

É com a emissão de mensagens desse porte que Fred Forest inaugura seu mais recente prank na 1º Bienal del Fin del Mundo, que compreende uma instalação no farol e um terminal disposto em uma das celas do presídio de Ushuaia, na qual os visitantes poderão consultar um site na Internet e acionar os emissores de conclamações que pouco a pouco se multiplicarão sob a abóbada celeste.

O texto conceitual do projeto, enviado por Forest ao Blog do Itaulab, começa da seguinte forma: No topo das prioridades da ecologia está a mente e a inteligência, que juntas poderão nos conscientizar dos perigos iminentes que nós mesmos criamos, de modo que possamos garantir as condições mínimas de nossa própria sobrevivência durante toda a continuidade de um tempo eterno - um tempo que poderá ter a energia positiva do mundo e uma sabedoria ancestral. O farol de Ushuaia, postado como uma sentinela, emitirá incansavelmente seus sinais do Pólo Sul para o Pólo Norte. Essa progressão ocorrerá seguindo linhas flexíveis e moveis de ondas, que se multiplicarão até o infinito e acabarão por envolver o planeta inteiro com um véu invisível. Esse véu, tecido pela expressão coletiva dos homens de boa vontade, será como a túnica leve de um xamã dotado de poderes eletrônicos. Uma túnica que a partir de agora nos protegerá das tentações mortíferas da civilização: do ruído e do furor, da poluição, da violência, da fome indigna, do terrorismo, do fanatismo de todo tipo, da predação sistemática das riquezas naturais.

O impulso de mudar o vetor de fluxos culturais, expresso no termo "do Pólo Sul ao Pólo Norte", é a epítome dos novos anseios de difusão cultural, que contrariam os atuais fluxos de informação (ver imagem abaixo). O padrão hegemônico é descrito de forma lúcida por Moacir dos Anjos no livro Local/Global: Arte em Trânsito: Outra manifestação das estruturas hierarquizadas de poder que presidem os processos de transculturação é encontrada no caráter assimétrico dos fluxos de informação mundializados, muito mais volumosos no sentido das regiões centrais para as periféricas do que na direção oposta, o que faz com que as formas culturais criadas nas regiões que possuem hegemonia do processo de globalização sejam melhor difundidas e afirmadas mundialmente do que as ressignificações que delas são feitas a partir de culturas locais e, evidentemente, do que criações somente nestas assentadas.

Conhecendo as estratégias de Forest, o tom mítico e politicamente correto do manifesto adquire estranhas conotações satíricas. É um prank de grandes dimensões, comparável ao (não confirmado) último prank de Sir John Hargrave: hackear o Super Bowl para a divulgação do livro Prank the Monkey: The ZUG Book of Pranks.


Mas as estratégias de Forest, que estão sendo desenvolvidas desde a década de 60, são mais "pé no chão", seja lá o que esse termo signifique lendo as seguintes linhas (e entrelinhas): A sentinela do fim do mundo, erguida entre o céu, o mar e a terra, lançará sua mensagem de sabedoria e de inteligência para que os homens, num último lampejo derradeiro, possam reconsiderar suas atitudes. A tecnologia - que vai deixar de ser um objeto de vigilância, opressão e morte - vai permitir que a sentinela do fim do mundo emita ondas "positivas". São ondas luminosas e sonoras que vão varrer o planeta em toda a sua extensão para iluminar as nossas mentes. Cada um poderá oferecer o seu corpo a essas ondas de fluxo benéfico conectando seu computador, qualquer que seja a posição em que se encontre em termos de latitude e longitude, seu local geográfico ou o país da Terra: Gaia, a mãe de todos nós.

O manifesto, proferido por outro que não fosse Fred Forest, soaria como uma logorréia new age. Mas dito pelo prankster gaulês argelino, é uma sátira digital que inverte a lógica de Borat, ou seja, ao invés de consumar a crítica com a ampliação do incorreto (racismo, sexismo, etc), ele a realiza com a amplificação do social e politicamente aceitável.


Lendo a primeira etapa do projeto, a sátira desvela seus contornos cínicos: um emissor de ondas curtas será instalado de modo simbólico no alto deste farol e divulgará uma mensagem gravada em várias línguas. Ou seja, a imanência da "obra" continua sendo transcendental. Na segunda etapa, será criado um site na Internet permitindo a divulgação mundial de uma mensagem ilustrada com a imagem deste farol, uma espécie de entidade mítica batizada de A Sentinela do Fim do Mundo. Por meio de uma animação gráfica superposta à foto, ondas concêntricas móveis emanarão da parte superior desta figura-tótem erguida no céu. Um botão interativo permitirá desencadear as ondas e outro inserir mensagens.

Mais uma vez, Forest se diverte e, ao mesmo tempo, combate.

19.3.07

Historiadores do Futuro

Conhecer o passado do futuro para saborear melhor o presente. É assim que resumimos o livro MediaArtHistories, editado por Oliver Grau. Um trecho do release: A arte digital progrediu a ponto de se tornar uma das mais importantes manifestações artísticas contemporâneas, a despeito de ainda não ser reconhecida por instituições tradicionais, nem suficientemente arquivada ou incluída de forma sistemática em acervos, muito menos representada por completo nos cursos de graduação de História da Arte e outras disciplinas acadêmicas. Para superar essa lacuna, o projeto reuniu autores renomados da Europa e dos EUA, como Rudolf Arnheim, Peter Weibel, W.J.T. Mitchell, Oliver Grau, Lev Manovich, Erkki Huhtamo, além de alguns representantes da Ásia e da Austrália, como Machiko Kusahara e Sean Cubitt. Obviamente, o aspecto histórico da arte tecnológica é tratada com a devida atenção. Os colaboradores traçam a evolução das chamadas artes digitais, das máquinas automáticas do século 13 islâmico, espetáculos de phantasmagoria do século 18, lanternas mágicas, até as invenções de Marcel Duchamp, a arte cinética e a Op art dos anos 1960. Uma resenha acurada do livro está sendo preparada para CIBERCULTURA.

18.3.07

Bacilos e Saúvas

Aqui vai uma paráfrase jocosa de Gaspari. MARIODEANDRADE@NET para BARBARA@UOL: os males do Brasil não são a pouca saúde e as saúvas; o grande mal é o atraso no campo das idéias. Se nem os filósofos nacionais conseguem conter suas emoções perante as barbaridades brasileiras, por que meros livres pensadores assim o fariam? Difícil mesmo é ficar calado após a leitura do texto Cultura de Bacilos, encontrado na Folha e divulgado na Internet como se fosse um “achado”. Nele, a jornalista ataca o Minc por investir em pontos de cultura relacionados ao funk, rap e hip-hop, pois isto não é “criação nossa”. O melhor seria, diz ela, investir em axé e música sertaneja, ou mesmo em divulgação de textos de Machado de Assis e Guimarães Rosa. Tupã! Livrai-nos de semelhantes mal traçadas linhas! Já é tempo de rebater visões inconsistentes de cultura, que irrompem solertes na mídia com incômoda freqüência. Há novas perspectivas, boa gente! E elas implicam em confusão! Para o seu governo, senhora, o hibridismo não é uma experiência biológica nazista; é o processo de aunar a uma cultura hegemônica as forças criativas locais e periféricas. Aliás, a própria idéia de “cultura hegemônica” cai por terra quando esta é recondicionada e injetada novamente no circuito das comunicações não apenas com uma nova roupagem, mas com um novo significado e um novo vetor. E essa é a boa nova! As novas perspectivas, senhora, enterram de vez posições puristas das quais se fundam as resistências vernaculares e as noções essencialistas de identidade! Até as famosas antinomias – popular/erudito, tradicional/moderno, local/global – empalidecem diante da proposta de uma cultura supranacional. Em resumo, senhora: criticar a McDonaldização da cultura é uma platitude tão antiga quanto pichar Yankees, go home! A onda agora, anote, é a confusão.

14.3.07

Fast Track

Os carros sempre causaram fascinação, seja ela mórbida – ballardiana (termo já localizável em dicionários ingleses) – ou estética. Neste segundo quesito, surgiram no radar de hoje dois exemplos interessantes e merecedores de postagens. O grande Olafur Eliasson (ídolo de alguns curadores e artistas brasileiros) foi comissionado para decorar o H2R, o carro da BMW movido a hidrogênio (abaixo). E o artista inglês Benedict Radcliffe realizou um carro em wireframe, uma escultura não digital, mas real.

7.3.07

Adieu

Eh bien, je suis hors de moi, dans tous les sens du terme!
Les exilés du dialogue, Jean Baudrillard, Enrique Valiente Noailles, éd. Galilée, Paris, octobre 2005
UPDATE (14:30): Sheila Leirner escreveu um comovente "necrológio". Trecho de destaque: Vou lembrar que, convidado a vir ao Brasil pela primeira vez, você entrou em meu escritório da Bienal como um leão à contragosto talvez porque a arte, sobretudo a contemporânea, nunca foi a sua "taça de chá". E mesmo assim, Jean Baudrillard, ou talvez justamente por causa disto – você foi o seu profeta!

6.3.07

Big Art

A arte, vez em quando, chega ao paroxismo no que se refere à intervenção ambiental. O novo queridinho de Hans-Ulrich Orbist (ver Artforum de janeiro), o artista chinês Xu Zhen, literalmente serrou 1,86 metros do topo do monte Everest para a Trienal de Yokohama. E Bernd Hopfengärtner resolveu fazer um crop circle no formato de um semacode com a mensagem: “Hello, world!”. Estaria ele preparando o terreno para o Ziggy Stardust?

2.3.07

Stranger Than Fiction

Quando a Nissan ingressou no metaverso, todos ficaram impressionados com aquele car-dispenser...
Agora, se você comprar um Volkswagen na montadora de Wolfsburg, Alemanha, vai ter a mesma experiência.

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