25.10.05

Impressões de Belém de Pará

Belém do Pará, 20 de outubro de 2005
Uma cidade plana, fortificada, cercada pelos odores e cores do mercado Ver-o-Peso, protegido pelo forte que foi cenário da Cabanada, revolta dos oprimidos contra a Regência. Ato contínuo, IAP, bastião da cultura paraense. Os projetos são simples, mas extremamente bem executados. A parceria com o a Guiana francesa rendeu o excelente "Fios da Meada", contos amazônicos recontados por Paulo Nunes, e "Mots Tissés", contos de Guiana. O catálogo de produtos é notável: "Tipos e Mitos da Modernidade", de Octavio Ianni, e "Ritmos Amazônicos", de Tynnôko Costa. Co-produção do filme de animação "A Revolta das Mangueiras", junto com o pessoal do Anima Mundi. Na parte da tarde, rádio e preparação para a palestra de André Vallias. No rádio, DJ Dinho, o Tupinambá Treme-Terra, reverbera o cenário tecnobrega local, que se desenvolve em circuitos totalmente "off"-ICMS, "off"-notas fiscais e "off"-carteira assinada (Hermano Vianna). Festa de aparelhagem no Outeiro da Lapinha. Começa a palestra de Vallias, o poeta visual, ou melhor, verbovocovisual. Público pequeno, mas absolutamente atento. Vallias detém-se com mais cuidado em "ORATORIO", poema singular e plural que "labora, no convívio de códigos, os contrastes e confrontos da Cidade Maravilhosa, da holovisão arrebatadora no cocuruto do Corcovado à depressiva miséria das “margens” do Rio, do Morro do Céu ao rés-do-chão da Rocinha" (Roland Campos).


Belém do Pará, 21 de outubro de 2005
Uma caminhada até o Mangal das Garças. Na volta, incursão na igreja de São Alexandre, onde ouvimos com grata surpresa a guia discorrer num português mais refinado que o falado no Jornal Nacional sobre como as estátuas sacras esculpidas pelos índios remontam a uma fenotipia ameríndia; sobre o fato de São Sebastião não ter morrido flechado, mas sim com as infecções da Cloaca Maxima. Na última noite, um papo na Doca, com muito tacacá e suco de bacuri.