20.9.08

Boi Cibernético

Começa hoje a segunda edição de Invisibilidades, evento promovido pelo núcleo de Diálogos do Itaú Cultural. Fábio Fernandes, curador desta edição (o da primeira foi Roberto Causo), optou por dar espaço a emergentes e “malditos”, entidades um tanto quanto distantes do habitat tradicional dos essencialistas do fandom. Portanto, é de se esperar papos do tipo: como canibalizar (no sentido antropofágico) a New Weird, nova tendência da literatura fantástica que mistura Kafka e Lovecraft? É possível praticar, ao mesmo tempo, alta literatura e ficção científica? Qual o estado de coisas da literatura de antecipação nacional? Aliás, essa é uma boa pauta, já que o gênero que agrega ficção científica, horror e fantástico está em franca ascensão, no mundo e no Brasil. Para se ter idéia, a comunidade brasileira de ficção científica no Orkut conta com 4.468 assinantes, número nada desprezível. Tirante as enormes brigas de gangues ao estilo “Quadrophenia” (metaforicamente correto seria dizer: “Guerra dos Guararapes”), o presente da FC nacional vai muito bem obrigado, com o surgimento de novas editoras e autores. Ou seja, as discussões prometem. Seria interessante contrapor o ensaio de Clive Thompson – no qual critica-se o excesso de realismo na literatura contemporânea – e a pensata de Jean Baudrillard que propõe o atropelamento da ficção científica pelo caminhão da hiperrealidade, um bloco maciço composto por modelos destacados do real e mapas maiores que o território. Talvez não seja esse um pensamento tão farsante, considerado o inevitável choque de frente entre real e imaginário.

Exemplos? Há dois só em Jornada nas Estrelas: O Problema com Pingos [The Trouble With Tribbles] não tem tudo a ver com os ativos tóxicos da Lehman Brothers?

A Máquina da Destruição [The Doomsday Machine] não é o próprio Colisor de Hádrons (que, segundo o físico Victor Weisskopf, será a “catedral gótica do século 20” [Der Tagesspiegel, 11/09])? (parênteses: veja o post Doomsday Machines). Voltando ao Invisibilidades II... Lá estará Bráulio Tavares, que acabou de lançar um blog só sobre a obra de Thomas Disch, poeta que se enveredou pela ficção científica. Fausto Fawcett, o nosso Rotwang, criador não de Maria, mas da andróide mais cobiçada do Brasil, Regininha Poltergeist. Alfredo Suppia, especialista em cinema de ficção científica nacional (sim, ele existe; e em profusão). Octavio Aragão, da Intempol. Sobre pós-modernismo: Jacques Barcia, Max Mallmann e os editores gaúchos da Não Editora. E muitos outros (Fernando Da Silva Trevisan blogando e Adriana Amaral twitterando). Como fecha, o quarto volume do Pecha Kucha Night, com destaque para Ronaldo Bressane lendo trechos de seu "Mnemomáquina" (junto com imagens nonsense by Madame Uviedo) e Lala Deheinzelin, apresentando seu think-tank futurista. Ficção cientifica nacional tem futuro? E como! Afinal, não é daqui o evento mais cyberpunk de todos: a festa do boi de Parintins?
UPDATE (23/09): o quarto volume do Pecha Kucha Night foi um arraso! Parece que houve um consenso sobre o fato de ter sido o volume mais legal. Sessão momentos inesquecíveis...

As clowns Sabiá e Ubbá tiram sarro do universo da FC e, de quebra, tiram sarro do público também (e principalmente do MC!)

O pernambucano Jacques Barcia lê um trecho de Meu nome é interno, ficção new weird brazuca que explora conexões entre a cadeia de segurança máxima e a síndrome de locked-in.

E Alfredo Suppia tece uma hilariante narrativa com fotogramas do cinema de FC nacional (o público se esbaldou!)
UPDATE (24/09): E aqui está a apresentação de Filipe Gabriel Silva no YouTube...

2.9.08

Cibernética e Arte

Teve início no ultimo dia primeiro uma poderosa discussão no diretório de listas Yasmin sobre a seminal exposição Cybernetic Serendipity, ocorrida no ICA, Londres, durante o verão florido de 1968. Cybernetics Serendipity Redux é capitaneada por Ranulph Glanville, notório pesquisador inglês de cibernética. Junto com ele, o Itaulab montou uma comunidade Ning, chamada Cybernetics – Art – Design, com o intuito de servir de repositório para toneladas de material iconográfico e discussões paralelas. Além de Glanville, faz parte da lista do Yasmin um time de peso: Jasia Reichardt (curadora do CS), Paul Brown (artista inglês fundamental), Paul Pangaro (dispensa apresentações a quem acompanha o trabalho do Itaulab), Roger Malina, entre outros. Isso tudo é indispensável para os interessados na intersecção entre arte e cibernética (principalmente a de segunda ordem). Todos estão convidados.