24.12.09

Noção de Prescrição

Há muita desconfiança em torno do filme Avatar, de James Cameron. "Intelectuais" de plantão têm atacado o roteiro que, segundo dizem, é déjà vu. Ora, não precisa ser doutor em arte para saber que clichês bem trabalhados transmutam-se em ouro. Ignorar o marco técnico do filme com a alegação de falta de qualidade do roteiro é, no mínimo, empáfia de intelectual liberal mal resolvido. E olha que o roteiro nem é tão ruim, já que é uma versão de Um Homem Chamado Cavalo, de Elliot Silverstein (um dos melhores westerns de todos os tempos). Com relação à língua artificial falada pelo povo Na'vi, não se via um trabalho tão bem executado desde a língua dos neandertais criada por Anthony Burgess para o filme A Guerra do Fogo, de Jean-Jacques Annaud. Tanto as pesquisas de exobiologia (item bastante criticado por "intelectuais" supracitados) quanto o aspecto técnico (câmeras estereoscópicas, técnica de motion capture, direção de atores no universo virtual em tempo real, etc.) são - anotem essa palavra em seus moleskines, senhores "intelectuais" - impecáveis. Qualquer um que trabalha com cultura digital contemporânea tem a obrigação de ver esse filme (foi irresistível cortar a palavra "digital" da sentença anterior). Por enquanto, a melhor (anti)resenha do filme foi escrita por Lúcio Manfredi. Bom 2010 a todos e até breve.

13.11.09

Tree Huggers







Mais relações entre árvores e arte tecnológica aqui e aqui.

12.11.09

Hockney Kindergarten


Pirralhos e um velho pintor inglês se deslumbram com as possibilidades pictóricas oferecidas pelo brinquedinho de Jobs...

6.11.09

Vale Estranho





De cima para baixo: Ella, de Gerhard Richter; uma ninfeta de David Hamilton; um c-print de Oliver Herring; e [não menos importante] um gamer em clima de Halloween [com máscara de polígono]. UPDATE (14/11): Foto de Elisabeth Molin. Ver mais em Uncanny valley.

14.10.09

O Outro do Mesmo

Arte tecnológica... Existe tal entidade? Certamente. Mas não de forma absoluta. Não é um Universal Concreto, como seus detratores apregoam; mas também não é um Absoluto “em si e por si”, como insistem seus defensores. Que há uma lacuna, isso há. Vazio este preenchido – eventualmente – por um fetiche tecnológico gratuito, asséptico e condescendente (a artista e teórica Giselle Beiguelman tem insistido nesse ponto). Uma coisa é certa: arte tecnológica está inserida perfeitamente no universo das artes visuais contemporâneas. Portanto, não há por que temê-la; não há por que diferenciar, por exemplo, categorias abstratas, como tipos de interatividade. “A interatividade que queremos é a social, não é aquela de brincar com joguinhos numa exposição de arte e tecnologia”, afirmou recentemente na mídia local o artista Maurício Dias, que está expondo, junto com seu parceiro Walter Riedweg, no Instituto Tomie Ohtake. Por que Dias faz questão de dissociar sua arte de qualquer resquício tecnológico, ele próprio que já participou de algumas exposições ditas de “arte tecnológica”? Por que tanta ojeriza? Será preciso muita força de vontade dos agentes para reverter o quadro. Sugerimos, então, para início de conversa, uma campanha para trazer o filho pródigo de volta ao seu lar, começando por um exercício de pensamento. Que tal colocar o robô lixeiro do grupo argentino Biopus (imagem acima) ao lado de uma candy work do artista cubano Felix Gonzales-Torres? É colocar uma representação da chamada arte tecnológica ao lado de um representante da chamada arte relacional. Será que Bourriaud (em breve aqui no Itaú Cultural) aprovaria? Talvez sim. Talvez não. Caso não, pode-se substitutir os pirulitos de Gonzales-Torres por outras guloseimas. O público, com certeza, iria adorar.

22.9.09

Itaulab em Lisboa

Montagem da obra OP_ERA, de Rejane Cantoni e Daniela Kutschat, para o INSIDE [arte e ciência], exposição arquitetada por Leonel Moura, em Lisboa. Embaixo, o robô paparazzi de Ken Rinaldo em primeiro plano. Outros artistas de destaque também estão presentes, como Orlan e Stelarc.

31.7.09

Por um Estado de Bem-estar da Alma

Ele dorme pouco. Suas olheiras, porém, não revelam cansaço; muito pelo contrário. Sua postura é enérgica, vibrante; suas ações são vigorosas. Seu raciocínio é aguçado. Ele sabe que não há tempo para o sono no colo do gigante adormecido chamado Brasil. Há muito por se fazer contra a mediocridade que grassa, seja no congresso nacional ou nos congressos estudantis. Esse incansável lutador lembra um pouco a energia infinda de Gordon Pask, o cientista britânico que, durante suas longas horas de vigília, propôs uma teoria da conversação que abarcasse humanos e máquinas. Mas tratamos de Silvio Meira, cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, que realizou a palestra inaugural do Simpósio GamePlay, ontem, dia 30 de julho. E que palestra! Em sua preleção, associou os processos de interação – substância da exposição GamePlay – com o devir existencial, com o “ser-aí” (dasein) de Martin Heidegger, a potencialidade do ente em disparada, em constante atualização, em sua busca constante por uma tensão dinâmica que lhe proporcione recursos contra a entropia, o fluxo bêbado do mundo exterior. Após algumas contextualizações filosóficas, Meira se desculpou por supostas imposturas intelectuais, e seguiu em frente em sua análise sobre o papel dos jogos eletrônicos na sociedade contemporânea. Se hoje eles espelham simulacros, é porque nos distanciamos por demais das percepções imediatas, da presença do real (a realidade propriamente dita) e do Real (a única realidade possível, segundo Lacan, a saber, a morte). Se os videogames tornaram-se hiperreais – a ponto de incluírem em seus ambientes sofisticadas simulações de leis de física – é porque, de certa maneira, nos tornamos escravos das formas puras platônicas, independentes dos mecanismos de percepção imediata. No futuro, de acordo com as previsões do filósofo pernambucano, “game is over”. Sim, pois ao invés de fingirmos tocar a guitarra de George Harrison no videogame musical The Beatles: Rock Band, vamos literalmente reproduzir os acordes, sem o recurso da simulação. A coisa real será o apelo. Logo, os personagens virtuais dos videogames serão materializados em robôs autônomos ou semi-autônomos que sentarão com humanos para redigir uma nova legislação de robótica, menos antropocêntrica que as três leis de Asimov. A lógica das percepções transformadas em emoções, hoje restrita ao universo dos humanos, fará parte de uma população de máquinas inteligentes não elaboradas para serem escravas ou assassinas de aluguel, mas simplesmente parceiras de jogos para a raça humana. Ao final, Meira contou sobre o que parece ser a solução para os aborrecidos videogames educacionais: competições em redes sociais. Tal é o fundamento do projeto OjE (Olimpíada de Jogos Digitais e Educação), iniciativa de vários players tecnológicos de Pernambuco. Ao invés de coibir a fuga de alunos para as lan houses, por que não trazê-las para o pátio dos colégios? O ensino não deveria ser um jogo de conhecimento? Silvio Meira quer mais que um estado de bem-estar; quer um Welfare State of Mind. Conte conosco, caro filósofo das técnicas!
UPDATE: Na linha de tudo o que foi dito anteriormente, Rosangela Massolin manda avisar que dia 8 de agosto acontece na USP o I Torneio Juvenil de Robótica de São Paulo. Mais informações aqui ou no telefone (11) 3872-8274.

28.7.09

Pisca-pisca

A matéria de hoje sobre o mercado de arte tecnológica na Folha Ilustrada provou somente uma coisa: a crítica de arte brasileira carece de uma axiologia. É nítida a falta de um arcabouço de valor aos “caquéticos guardiões do Pensamento Oficial” (Maffesoli) do jornalismo cultural. O autor em questão cometeu um texto no qual afirma que as expressões artísticas com novas tecnologias “piscam, giram, transmitem dados, imagens, sons em tempo real - em geral tudo muito colorido”. Redução? Não, indolência mesmo. A matéria é a prova cabal de uma ausência. Simples assim. Quod erat demonstrandum. O esperneio não é fruto de crise persecutória: se há alguma teoria conspiratória contra a arte tecnológica, foi provavelmente articulada por Mark Lombardi...

9.7.09

Hail Low Tech !

Na overture de GameMusic, Kurt Rizzo (do projeto SubwaySonic Beat) arrasou! Platéia cheia e animada louvou um Ian Curtis post-mortem. Nem MJ escapou (a versão "blip" de Moonwalker é impagável). O selo Chippanze chega na hora certa. Hoje tem André Pagnossim, do projeto Pulselooper. Quem é entendido, vai!

UPDATE (15/07): Kurt e André, dois dos paladinos chip.
UPDATE (27/07): Pagnossim subiu o show do Kurt pro Vimeo. Em breve, as três outras apresentações...

30.6.09

Conversações Não-Ortodoxas

Após um ano de pesquisas e um número infindo de videogames testados, tem início hoje a exposição GamePlay. A proposta não é tecer encômios aos jogos eletrônicos, o que seria óbvio por demais. Mesmo porque ela não abriga apenas videogames, como também instalações interativas. Portanto, o que está em jogo (trocadilho em alusão a um dos materiais de comunicação) é a relação entre humanos e máquinas, ou o que é chamado tecnicamente de Human–computer interaction (HCI). É como se a idéia de “estética relacional”, desenvolvida por Nicolas Bourriaud, se estendesse para fora dos espaços de convivência e das micro-revoluções e invadisse um campo onde a conversação se dá em outros tipos de “formas-mundo”, onde é possível desenvolver outros tipos de relações e outras maneiras de projetar possibilidades. É desejável – com a licença de Bourriaud – chamar esse tipo de estética de “estética da interação”, em que as relações internas do algoritmo extrapolam para uma semântica entre o “observador-manipulador” e uma máquina de reiterações. Apesar de a grade conceitual cibernética estar presente, o evento não é “ciberdeterminista”, já que aposta nas relações semânticas entre humanos e máquinas e não apenas nas relações sintáticas encasteladas por objetos técnicos.

25.6.09

Festa do Móbile

O guerreiro Paulo Hartmann avisa que a chamada de trabalhos e vídeos do Mobilefest deste ano foi estendida. Paulo e Marcelo Godoy também estão abrindo uma categoria no Prêmio Mobilefest, que está indo para sua terceira edição neste ano, e será lançado durante o IV Mobilefest, que acontece de 17 a 28 de setembro, no MIS (mais sobre isso, depois). Highlight: Sara Diamond, do OCAD, vai dar palestra no evento...

24.6.09

Direto de Linz...

Nosso correspondente internacional Ricardo Nascimento informa que no dia 17 de junho foi inaugurado o projeto 80+1, em Linz, Áustria.

Cada semana dois novos projetos serão instalados na praça central da cidade e abordarão temas como: mudança climática, energia, diversidade cultural, água, entre outros.

O projeto “ Grand Mutual Smiles” propõe uma conexão entre Linz e Thimphu (Butão) para abordar o tema "felicidade". Por meio de uma webcam você pode enviar um sorriso. Assim que o seu sorriso é detectado pelo sistema uma fotografia é tirada e enviada para a outra cidade. Desta forma um mosaico com fotos de sorrisos é montado e modificado em tempo real. O participante envia um sorriso e recebe outro em troca.

Um outro projeto interessante é um cabo-de-guerra virtual. Uma parte da instalação foi montada em Linz e outra em Viena. Assim que houver um oponente do outro lado o jogo começa...

Os próximos temas abordados serão: comida e água (dois itens que começam a escassear de forma severa de acordo com um coeficiente Gini perverso). Vale lembrar que os projetos são realizados pelo Ars Electronica Center em parceria com Voestalpine e Linz09.

16.6.09

Nada Será Como Antes

Provocativa a entrevista do über-curador Hans Ulrich Obrist com o recém falecido J.G. Ballard (parte do livro Hans-Ulrich Obrist: Interviews). Versado na chamada ficção científica do inner-space (em contraposição à FC do outter-space), Ballard afirma que a exposição This is Tomorrow (Whitechapel Art Gallery, 1956) não foi um "evento estético" e sim um "evento psicológico", pois fez-se necessário colocar carros retorcidos no espaço expositivo para chocar a art crowd. Voltando para os dias atuais, chega a ser engraçada a observação do crítico de arte do The Observer, Nick Cohen, sobre as obras da exposição Altermodern (Tate, 2008): "The sight of a watercolor would be far more transgressive". Tempos interessantes...

11.6.09

Jamming

Quem melhor para "ilustrar" o engarrafamento de 293km ocorrido ontem em São Paulo do que o velho e bom León Ferrari? Apesar do ineditismo do fenômeno, deu para chegar a tempo de ver o espetáculo Wabi Sabi, de Susana Yamauchi, no Teatro de Dança, ex-Teatro Itália (dias 10, 11 e 12 de Junho às 21h00). É sobre uma visão estética japonesa, calcada em percepção assimétrica, simples e modesta (nada a ver com a estética do precário).

9.6.09

Visões da Humanidade

Ausgezeichnet!!! Inicia-se hoje uma série de reportagens sobre o festival Ars Electronica direto da Áustria, por nosso correspondente internacional Ricardo Nascimento: Este ano o festival acontece entre os dias 3 e 8 de setembro em Linz (Áustria). É um dos maiores e mais importantes festivais de arte eletrônica do mundo e esse ano vem turbinado pelo fato de Linz ser a capital da Cultura da Europa. No dia 19 de março foi lançado em uma coletiva de imprensa o tema do festival: "Human nature". Segundo Gerfried Stocker, diretor criativo do Instituto que promove o evento, o festival desse ano será focado no homem e sua interação com o meio ambiente e com outras culturas. Por esse motivo foi feito meses antes uma chamada de trabalhos para o projeto 80 + 1. Esse projeto, baseado no conto de Julio Verne e idealizado pelo artista americano Michael Naimark, tem como objetivo desenvolver instalações que conectem de alguma forma lugares distantes do planeta de uma maneira inovadora. Para isso o AEC está construindo uma sede que abrigará os projetos selecionados na praça principal da cidade. Mais informações no site do Ars Eletronica Festival e 80+1.

15.5.09

Nova Episteme

Stephen Wolfram, conhecido como autor do singular programa de ensino, o Mathematica, está nervoso. Hoje, 7:00 pm CST, é lançada uma rede de clusters que pretende organizar e recuperar todo o conhecimento humano, o Wolfram|Alpha. Os executivos da Google, sistema de busca que passa por problemas sérios de roteamento, estão atentos e já com a mão na carteira. Se o sistema não derreter (sim, é exatamente esse o termo usado por Wolfram nesta entrevista) com as incontáveis queries, pode ser o começo de uma nova era, de uma nova episteme, de um novo sistema de vida artificial. Sem exagero.

12.5.09

Máquinas de Guerra

Giselle Beiguelman avisa que os e-books que registram os eventos realizados ao longo de 2008 pelo Instituto Sergio Motta estão disponíveis para download. São eles: HTTPVideo, HTTPTags, HTTPSom e Apropriações do (In) Comum - Espaço Público e Privado em Tempos de Mobildade. O primeiro trata dos HTTPs, festivais on-line de videoarte, sites e música, realizados em parceria com o YouTube Brasil, o Gafanhoto e o Itaú Cultural; o segundo, do Simpósio Apropriações do (In)Comum que debateu o impacto das mídias móveis na cultura contemporânea, em parceria com o festival de mídias móveis Vivo arte.mov.

8.4.09

Rumos 2009

Março e Abril: pé na estrada. Rumos 2009 e os processos de criação na dança, cinema/vídeo, arte cibernética e jornalismo cultural. O atento Reuben da Cunha Rocha não deixa escapar nada da caravana...

28.1.09

Chiptunes!

O título do primeiro post do ano representa os que compõem músicas com (e para) Gameboy, Atari 2600, Nintendo e Commodore 64 (mas não só): objetos técnicos da saudosa era de ouro dos videogames. Festivais de grande porte já pululam nos EUA, sendo o Blip o maior deles. Há os que emulam os reconhecidos e adorados timbres no sintetizador Korg DS-10 (com o seu auxílio, há os que transformam canudos de plástico em vocoders). Não há como resistir ao som da banda 8-Bit Operators (EUA), famosa por "portar" músicas dos alemães do Kraftwerk para o universo Chiptunes. Durante as próximas comemorações da Revolução constitucionalista de 1934 acontecerá um mini-festival de Chiptunes no instituto em São Paulo. A cena existe no Brasil? Sim, claro. Maiores informações em breve.

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