No Brasil, a discussão deve se concentrar em assuntos como a nova cadeia produtiva de música que começa a se descolar da economia oficial. Neste cenário, saem editores, distribuidores e arrecadadores e entram os piratas e camelôs, que passam a ser os novos agentes de facto. No artigo A Música Paralela, publicado na Folha de São Paulo em 13/10/2003, o antropólogo Hermano Vianna detecta e coloca em discussão a nova realidade: A música circula mais como bytes do que como objetos reais que podem ser comprados e manipulados no mundo 'não-virtual'. Os músicos não têm mais gravadoras nem o custo de prensar os discos, imprimir as capas ou distribuir os produtos – esse custo todo fica por conta dos camelôs e seus sistemas não-oficiais de indústria e comércio. Nota-se, neste cenário, que a mídia mais importante é o MP3 que vai para os DJs das aparelhagens ou dos programas de rádio e para as fábricas de quintal de CDs contratadas pelos camelôs. Mas como, perguntam-se os defensores do atual estado de coisas, os músicos vivem, se não ganham dinheiro com vendas de discos nem as sociedades de arrecadação de direitos autorais têm o mínimo controle sobre o que toca nos programas de rádio ou nas festas de aparelhagem? Hermano responde: vivem das apresentações ao vivo, é claro - e nisso parecem ser pioneiros e vanguarda da música pop em tempos pós-Napster.
17.3.05
Meu Adorável Camelô
As novidades do setor da música digital mudam a cada dia. Por exemplo, está em curso uma discussão sobre como coligar duas opiniões aparentemente contraditórias sobre o direito autoral nos dias de hoje: a primeira, do professor da faculdade de direito de Stanford, Lawrence Lessig, defende uma menor prescrição dos direitos autorais; a segunda, de Chris Anderson, prega que os nichos de produtos culturais que perderam evidência comercial (como, por exemplo, LPs fora de catálogo) estão readquirindo inusitado valor na "prateleira infinita" da Internet. A posição de Anderson, entretanto, admite não necessariamente que os autores originais podem e devem ter vantagem financeira sobre os produtos culturais que estão disponíveis no que ele chama de "long tail". Na cultura do remix, os direitos autorais devem ser mais flexíveis e devem prever que o produto cultural poderá ser "remixado", reciclado e reprocessado por terceiros, quando deixarem de estar em algum topo de lista. Ou seja, Lessig e Anderson discordam sobre a extensão temporal dos direitos autorais, mas concordam com a possibilidade de os produtos poderem ser reapropriados em nome da sobrevivência e preservação da cultura humana.
No Brasil, a discussão deve se concentrar em assuntos como a nova cadeia produtiva de música que começa a se descolar da economia oficial. Neste cenário, saem editores, distribuidores e arrecadadores e entram os piratas e camelôs, que passam a ser os novos agentes de facto. No artigo A Música Paralela, publicado na Folha de São Paulo em 13/10/2003, o antropólogo Hermano Vianna detecta e coloca em discussão a nova realidade: A música circula mais como bytes do que como objetos reais que podem ser comprados e manipulados no mundo 'não-virtual'. Os músicos não têm mais gravadoras nem o custo de prensar os discos, imprimir as capas ou distribuir os produtos – esse custo todo fica por conta dos camelôs e seus sistemas não-oficiais de indústria e comércio. Nota-se, neste cenário, que a mídia mais importante é o MP3 que vai para os DJs das aparelhagens ou dos programas de rádio e para as fábricas de quintal de CDs contratadas pelos camelôs. Mas como, perguntam-se os defensores do atual estado de coisas, os músicos vivem, se não ganham dinheiro com vendas de discos nem as sociedades de arrecadação de direitos autorais têm o mínimo controle sobre o que toca nos programas de rádio ou nas festas de aparelhagem? Hermano responde: vivem das apresentações ao vivo, é claro - e nisso parecem ser pioneiros e vanguarda da música pop em tempos pós-Napster.
No Brasil, a discussão deve se concentrar em assuntos como a nova cadeia produtiva de música que começa a se descolar da economia oficial. Neste cenário, saem editores, distribuidores e arrecadadores e entram os piratas e camelôs, que passam a ser os novos agentes de facto. No artigo A Música Paralela, publicado na Folha de São Paulo em 13/10/2003, o antropólogo Hermano Vianna detecta e coloca em discussão a nova realidade: A música circula mais como bytes do que como objetos reais que podem ser comprados e manipulados no mundo 'não-virtual'. Os músicos não têm mais gravadoras nem o custo de prensar os discos, imprimir as capas ou distribuir os produtos – esse custo todo fica por conta dos camelôs e seus sistemas não-oficiais de indústria e comércio. Nota-se, neste cenário, que a mídia mais importante é o MP3 que vai para os DJs das aparelhagens ou dos programas de rádio e para as fábricas de quintal de CDs contratadas pelos camelôs. Mas como, perguntam-se os defensores do atual estado de coisas, os músicos vivem, se não ganham dinheiro com vendas de discos nem as sociedades de arrecadação de direitos autorais têm o mínimo controle sobre o que toca nos programas de rádio ou nas festas de aparelhagem? Hermano responde: vivem das apresentações ao vivo, é claro - e nisso parecem ser pioneiros e vanguarda da música pop em tempos pós-Napster.