26.9.06

Forest e Ballard

O artigo de Fred Forest está surtindo algum efeito, pois parece que em algumas listas o texto já se tornou objeto de discussão. Sem desmerecer a frase proferida pelo curador da 26ª Bienal, Alfons Hug – a de que cabe ao Itaú Cultural a divulgação da chamada arte tecnológica – parece que há sentido na conclamação de Forest pela presença na bienal de um novo imaginário (Estético? Cultural? Social?) calcado nas complexas tecnologias que se anuviam no horizonte do novo milênio. Claro que há méritos em trazer à tona o trabalho fundamental de Hélio Melo, artista plástico e seringueiro do Acre. Claro que há também méritos nos debates prévios promovidos por Lisette Lagnado. Mas que há uma estranha sensação de vacuidade das artes numéricas (para usar um termo do próprio Forest) na próxima bienal, isso há. Há um excesso de paixão pelo real na arte contemporânea, como acusa K-punk em sua mais que pertinente reflexão sobre o ensaio fotográfico de Steven Meisel para o último número da revista Vogue (imagem acima). Se isso for verdade, a arte contemporânea teria perdido o fio dos processos primários, da fantasia e dos impulsos do inconsciente? Como bem diz Gregory Bateson no paper “Style, Grace, and Information in Primitive Art”, são as regras de transformação que deveriam interessar aos críticos de arte, não a mensagem contida nas obras. Ou seja, o que estaria implícito de cultura nos estilos, materiais, composições, ritmos e técnicas, elementos talvez mais importantes que o próprio objeto representacional. É uma idéia ousada, mas válida nestes tempos de crise estética.
UPDATE 1 (29/09): The novel is still largely a 19th-century form which has completely excluded … any consideration of the impact of science and technology on human beings from the main body of its work … most mainstream 20th-century novelists are still working with a 19th-century form that’s concerned not with dynamic societies but with static societies where social nuance is still important. Uma citação do escritor JG Ballard em 1991. Troque a palavra "novel" por "arte contemporânea" que tudo fica claro.
UPDATE 2 (1/10): Enquanto os EUA enterram o habeas corpus e o Brasil sobrevive a uma democracia folhetinesca, Fred Forest chama às armas todos os que se interessarem por algo que se assemelhe a uma "democratização da arte". Segundo o press release da Bienal do ano 3000: DE 7 DE OUTUBRO A 15 DE DEZEMBRO 2006, FRED FOREST CONVIDA OS NUMEROSOS ARTISTAS A PARTICIPAR DA BIENAL DO ANO 3000. UMA BIENAL NA QUAL OS ARTISTAS E OS CIDADÃOS TOMAM O PODER E EXERCEM SEU DIREITO À PALAVRA E À IMAGEM EM TODA LIBERDADE. SUA PRESENÇA, TANTO ATRAVÉS DE UMA IMAGEM OU DE UM TEXTO, OU DOS DOIS AO MESMO TEMPO, SERÁ ALTAMENTE SIGNIFICATIVA. FAÇA CIRCULAR ATIVIMENTE ESTA PROPOSTA EM TODAS SUAS REDES PESSOAIS. O SUCESSO DESSA INICIATIVA SERÁ TAMBÉM SEU PRÓPRIO SUCESSO E DEMONSTRARÁ A CAPACIDADE DOS ARTISTAS DE SE AUTO-ORGANIZAR, COM A AJUDA DAS FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO NUMÉRICA E DA INTERNET, DIANTE DOS DIFERENTES PODERES CULTURAIS E DO MERCADO PRESENTE. AS CONTRIBUIÇÕES SERÃO DIFUNDIDAS NO MAC, NO PARQUE IBIRAPUERA E REATUALIZADAS GRADATIVAMENTE.