Convergência. Palavra muito desgastada atualmente. Mas, e se fosse dada a ela mais uma chance? Como, por exemplo, a inserção de videoarte nas telinhas dos celulares? A Nokia se adiantou e lançou uma série de vídeos artísticos, assinados por nomes como Nam June Paik, Louise Bourgeois e Osmo Rauhala, para serem abaixados como ringtones e executados enquanto os aparelhos tocam. A tecnologia em si não tem nada de pirotécnica; as possibilidades, sim. (Dica de Paulo Henrique Ferreira)
24.2.05
Videoartones
Convergência. Palavra muito desgastada atualmente. Mas, e se fosse dada a ela mais uma chance? Como, por exemplo, a inserção de videoarte nas telinhas dos celulares? A Nokia se adiantou e lançou uma série de vídeos artísticos, assinados por nomes como Nam June Paik, Louise Bourgeois e Osmo Rauhala, para serem abaixados como ringtones e executados enquanto os aparelhos tocam. A tecnologia em si não tem nada de pirotécnica; as possibilidades, sim. (Dica de Paulo Henrique Ferreira)
21.2.05
Passaporte da Alegria
A proposta do grupo austríaco Sabotage era distribuir passaportes falsos na cerimônia de inaguração do Contemporary Arts Center, em Cincinnati, EUA. Claro que os "críticos de arte" do Departamento de Segurança Interna consideraram os documentos do State of Sabotage de péssimo gosto e recolheram todo o material.
Provavelmente, o artista Mathieu Briand não corre esse risco na Bienal de Emergência da Tchetchênia, organizada pela International Federation of Human Rights Leagues no Palais de Tokyo, em Paris.
Provavelmente, o artista Mathieu Briand não corre esse risco na Bienal de Emergência da Tchetchênia, organizada pela International Federation of Human Rights Leagues no Palais de Tokyo, em Paris.
17.2.05
Skating the International
Os editores da revista russa Chto Delat estão promovendo o projeto Drift. Narvskaya Zastava, que tem como objetivo fazer um mapeamento artístico do bairro Narvskaya Zastava, em São Petersburgo, berço de idéias urbanas utópicas desde o período revolucionário. Valendo-se de táticas de realismo crítico e práticas situacionistas, teóricos e artistas estão analisando e interpretando a arquitetura construtivista do famoso bairro russo. Há artigos de notório interesse no site.
A mania de usar a cidade como o próprio material da prática artística (e não como simples suporte) está em voga. O artista Andrei R. Thomaz, por exemplo, lançou o projeto _Uses of Space_, um registro de utilizações de espaços físicos das cidades, trabalho inspirado no livro The Poetics of Security: Skateboarding, Urban Design, and the New Public Space, de Ocean Howell, que reflete sobre a maneira pela qual os skatistas se apropriam dos espaços urbanos.
O videoclip This Fire, da banda Franz Ferdinand, talvez seja o resultado de uma obscura nova onda de iconografia soviética, já que costura, despropositadamente, a imagética de Narvskaya Zastava com o som dos skatistas de Thomaz.
A mania de usar a cidade como o próprio material da prática artística (e não como simples suporte) está em voga. O artista Andrei R. Thomaz, por exemplo, lançou o projeto _Uses of Space_, um registro de utilizações de espaços físicos das cidades, trabalho inspirado no livro The Poetics of Security: Skateboarding, Urban Design, and the New Public Space, de Ocean Howell, que reflete sobre a maneira pela qual os skatistas se apropriam dos espaços urbanos.
O videoclip This Fire, da banda Franz Ferdinand, talvez seja o resultado de uma obscura nova onda de iconografia soviética, já que costura, despropositadamente, a imagética de Narvskaya Zastava com o som dos skatistas de Thomaz.
11.2.05
Art-Hoax
No campo da arte contemporânea, a falsificação de obras de arte ganhou escala considerável muito por culpa do pintor Salvador Dali, que, aproveitando-se de uma onda de popularidade na década de 1960, escreveu em mais de 30.000 telas em branco sua assinatura, todas com um estilo diferente. A elevação da assinatura de Dali ao status de "obra de arte" facilitou ao extremo o trabalho dos falsários e, mais importante, acendeu o debate sobre "autoria".
Fala-se muito nestes dias de art-hoax, ou a engambelação como forma de arte. Muitos hão de lembrar do trote que o grupo austríaco monochrom pregou nos curadores da 25ª Bienal de São Paulo, em 2002. Ao invés de enviarem uma "obra", os pranksters decidiram "enviar" o "artista" Georg Paul Thomann ao Brasil. O projeto tático-irônico foi tão bem articulado, que o hipotético artista ganhou biografias, monografias, artigos e todo um complexo aparto simbólico-narrativo para auferir sua existência. O que era a princípio uma manifestação contra o governo de direita austríaco, acabou se tornando uma das estripulias artísticas mais notáveis dentro do âmbito da arte contemporânea.
A dificuldade de se separar o que é real do que é armação tornou-se um auto-de-fé. Hoje, alguém que atende pelo nome de "A Certain Geert" enviou a seguinte mensagem para uma das listas de discussão da Syndicate: I am sure that Reinhold Grether does not exist since I am in process with him in Germany. He wants to kick me out of my website, pretending that it is his website, while nobody on this earth can be sure whose website is my website. Beware, not only Reinhard's work is fictive, but he is a fictive person. Also identity hacking is boring when nobody on this earth would confuse me with a fictive person, I am me, my website is my website and I have absolutely nothing to do with certain fictive addresses and a fictive person. Seria então o Dr. Reinhold Grether, autor de uma famosa coleção de links sobre net art, uma pessoa fictícia? Que seja criado, então, um novo ramo do jornalismo: a reportagem investigativo-artística.
Não são raras as vezes em que os próprios teóricos que pregam o fim da autoria com a mesma verve de um Fukuyama são vítimas de suas próprias palavras. No paper Assinaturas Assimiladas: o Direito ao Nome Próprio, o artista paulista Cícero Inácio da Silva revela que "tudo que faço, na maioria das vezes, é criar pequenos algoritmos computacionais que tem os mesmos nomes dos autores que dizem que a autoria acabou, ou seja, que não há problema na apropriação, sendo que os algoritmos produzem uma série de textos, em muitos casos sem nexo algum, e depois os assinam com seu próprio nome". Ao tentar confirmar suas teorias, Cícero Inácio acabou provocando a ira do respeitado diretor da revista Leonardo, Roger Malina, que chegou a enviar ao artista um e-mail do tipo cease and desist. "Dizia ele no e-mail que o projeto, ou melhor, a revista Plato On-line depreciava o trabalho das pessoas que estavam com seus nomes expostos. Mais do que isso, afirmava que a Plato, por ser uma revista copiada quase na íntegra (visualmente) da Leonardo, enganaria as pessoas e elas acabariam lendo uma coisa que não pertencia aos autores reais".
A conclusão extraída dos casos citados acima é que a criação de obras e textos apócrifos, vista antes como um ato menor, quase um conto do vigário, hoje é uma instituição artística respeitada. Os clones de Dali devem estar se revirando em suas provetas...
UPDATE: O Cícero Inácio nos enviou um e-mail apontando para a mais recente obra-prima da art-hoax, uma peça elaborada por um dos integrantes da dupla The Yes Man, que se fez passar por um porta-voz da empresa Dow Química, responsável por uma das maiores catástrofes industriais da história, o desastre de Bhopal, na Índia (após vinte anos, o acidente continua matando uma pessoa por dia). O "porta-voz" conseguiu convencer a surcusal francesa da BBC de que a Dow estaria preparando uma indenização bilionária aos parentes das vítimas. A matéria foi ao ar e causou a queda das ações da empresa. Veja o trecho da entrevista e leia a história completa aqui.
Fala-se muito nestes dias de art-hoax, ou a engambelação como forma de arte. Muitos hão de lembrar do trote que o grupo austríaco monochrom pregou nos curadores da 25ª Bienal de São Paulo, em 2002. Ao invés de enviarem uma "obra", os pranksters decidiram "enviar" o "artista" Georg Paul Thomann ao Brasil. O projeto tático-irônico foi tão bem articulado, que o hipotético artista ganhou biografias, monografias, artigos e todo um complexo aparto simbólico-narrativo para auferir sua existência. O que era a princípio uma manifestação contra o governo de direita austríaco, acabou se tornando uma das estripulias artísticas mais notáveis dentro do âmbito da arte contemporânea.
A dificuldade de se separar o que é real do que é armação tornou-se um auto-de-fé. Hoje, alguém que atende pelo nome de "A Certain Geert" enviou a seguinte mensagem para uma das listas de discussão da Syndicate: I am sure that Reinhold Grether does not exist since I am in process with him in Germany. He wants to kick me out of my website, pretending that it is his website, while nobody on this earth can be sure whose website is my website. Beware, not only Reinhard's work is fictive, but he is a fictive person. Also identity hacking is boring when nobody on this earth would confuse me with a fictive person, I am me, my website is my website and I have absolutely nothing to do with certain fictive addresses and a fictive person. Seria então o Dr. Reinhold Grether, autor de uma famosa coleção de links sobre net art, uma pessoa fictícia? Que seja criado, então, um novo ramo do jornalismo: a reportagem investigativo-artística.
Não são raras as vezes em que os próprios teóricos que pregam o fim da autoria com a mesma verve de um Fukuyama são vítimas de suas próprias palavras. No paper Assinaturas Assimiladas: o Direito ao Nome Próprio, o artista paulista Cícero Inácio da Silva revela que "tudo que faço, na maioria das vezes, é criar pequenos algoritmos computacionais que tem os mesmos nomes dos autores que dizem que a autoria acabou, ou seja, que não há problema na apropriação, sendo que os algoritmos produzem uma série de textos, em muitos casos sem nexo algum, e depois os assinam com seu próprio nome". Ao tentar confirmar suas teorias, Cícero Inácio acabou provocando a ira do respeitado diretor da revista Leonardo, Roger Malina, que chegou a enviar ao artista um e-mail do tipo cease and desist. "Dizia ele no e-mail que o projeto, ou melhor, a revista Plato On-line depreciava o trabalho das pessoas que estavam com seus nomes expostos. Mais do que isso, afirmava que a Plato, por ser uma revista copiada quase na íntegra (visualmente) da Leonardo, enganaria as pessoas e elas acabariam lendo uma coisa que não pertencia aos autores reais".
A conclusão extraída dos casos citados acima é que a criação de obras e textos apócrifos, vista antes como um ato menor, quase um conto do vigário, hoje é uma instituição artística respeitada. Os clones de Dali devem estar se revirando em suas provetas...
UPDATE: O Cícero Inácio nos enviou um e-mail apontando para a mais recente obra-prima da art-hoax, uma peça elaborada por um dos integrantes da dupla The Yes Man, que se fez passar por um porta-voz da empresa Dow Química, responsável por uma das maiores catástrofes industriais da história, o desastre de Bhopal, na Índia (após vinte anos, o acidente continua matando uma pessoa por dia). O "porta-voz" conseguiu convencer a surcusal francesa da BBC de que a Dow estaria preparando uma indenização bilionária aos parentes das vítimas. A matéria foi ao ar e causou a queda das ações da empresa. Veja o trecho da entrevista e leia a história completa aqui.
3.2.05
Salsichas Espaciais
O misterioso Carlos Katastrofsky anuncia a primeira edição da revista eletrônica wurstmaschine, com a proposta de discutir a liberdade de comunicação e as restrições impostas pelo direito autoral. Depois de explicar no editorial o que significa o título da revista (wurstmaschine é uma máquina de processar salsichas), Katastrofsky expõe a fundo a hipótese da panspermia, segundo a qual germes de seres organizados se encontram em todos os lugares, aguardando condições favoráveis para o seu desenvolvimento. A estratégia da revista é, porém, revelar o problema de excesso de informação que acomete a humanidade em tempos de Internet.
1.2.05
Contemplação Remixed
A partir da década de 80, artistas começaram a usar com mais assiduidade softwares para manipular os parâmetros da expressão artística. A exposição Decipher: Hand Painted Digital, na Rotunda Gallery, em Nova York, explora este filão, mas vai mais além: as obras são criadas a partir de elementos tecnológicos, mas são finalizadas à mão, com métodos tradicionais. Um exemplo: Untitled (Light Green Lincoln), de James Esber.
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