30.7.07

Curto e Intenso

O inevitável aconteceu: a artista Jenny Holzer se apropriou do Twitter, uma mistura de SMS e blog coletivo. Algumas de suas últimas frases (como sempre, seminais): ENJOY YOURSELF BECAUSE YOU CAN'T CHANGE ANYTHING ANYWAY, WHEN SOMETHING TERRIBLE HAPPENS PEOPLE WAKE UP, BEING SURE OF YOURSELF MEANS YOU'RE A FOOL, SPENDING TOO MUCH TIME ON SELF-IMPROVEMENT IS ANTISOCIAL, DISORGANIZATION IS A KIND OF ANESTHESIA, CONFUSING YOURSELF IS A WAY TO STAY HONEST...

24.7.07

Dois Famosos Games com Roupagens Diferentes

No que tange à reciclagem de videogames antigos, nem tudo se resume à portabilidade (reescrever o programa em uma linguagem mais atual). Vide o nerd que realizou a façanha de fazer dois computadores jogarem Pong: o primeiro roda o jogo e controla uma raquete; e o segundo enxerga através de uma câmera e controla a outra. Num caso mais biotecnológico, um Pac-Man diferente, em que grilos de verdade controlam o movimento dos fantasminhas.

19.7.07

A Onça e o Espelho

O Espaço Memória do Futuro no Second Life está apresentando, em seu telão hiperscope, as duas primeiras partes de i.Mirror, trabalho que a artista chinesa Cao Fei elaborou especialmente para a Bienal de Veneza. O próprio avatar da artista – China Tracy – atua numa espécie de machinima (cinematografia baseada em games) no Second Life, encontrando-se com outros avatares e filosofando sobre os efeitos da representação dentro de um universo imaterial. O trabalho virtual de Fei faz parte de uma instalação montada no pavilhão Arsenale, onde ela levantou uma estrutura inflável branca que tem sido usada como espaço de chill-out. O trabalho de Fei ativa uma série de interpretações e pensamentos "antropológicos" e isso vem a calhar após a palestra de Eduardo Viveiros de Castro no Simpósio Memória do Futuro, em que ele explicou a sua versão de tradução e relativismo, chamada de perspectivismo ameríndio. Em temos gerais: imagine-se vendo uma onça bebendo o sangue de uma presa abatida. Para nós, humanos, a onça bebe sangue; mas para a onça, é cerveja. A onça encara o mundo como os humanos o fazem. Portanto, haveria uma unidade cultural, uma alma do mundo, em contraponto a uma natureza múltipla, composta de diversos agentes corporais, a única via de diferenciação. Nos universos virtuais esse conceito é ampliado por meio de uma estranha metalinguagem: a sensação da multiplicidade dentro da natureza virtual é mais intensa e a variação dos corpos etéreos que o atravessam é mais nítida. A cultura que a sustenta, por outro lado, gera uma unicidade mais forte. A celebração da diversidade "corporal" e de uma cultura unívoca: parece ser essa a mensagem de China Tracy, ou melhor, Cao Fei.

7.7.07

Crise = Oportunidade

Ontem aconteceu a terceira mesa do Simpósio Memória do Futuro com Eduardo Viveiros de Castro e Julian Dibbell. Bem, não com o corpo do último, mas sim seu avatar. O que não deixa de ter sentido num evento em que a virtualização é seu mote e seu princípio motor. O etnólogo digital teve problemas com o visto (senhores embaixadores: vamos acabar com a guerra da reciprocidade?) e não conseguiu embarcar a tempo para o Brasil. A equipe do Itaú Cultural envolvida com o projeto teve um princípio de choro e, em seguida, uma postura típica de Cassandra. No dia seguinte, o espírito de Cândido, o otimista, tomou conta de todos e um mutirão foi formado para se criar uma solução. Por que não colocar o avatar de Dibbell no Second Life (que, como é possível verificar na imagem acima, parece-se muito com ele) para falar ao vivo via Skype? A equipe de produção mobilizou-se para construir uma estrutura que, pelo que se tem notícia, apenas Philip Rosedale, CEO da Linden, consegue realizar. Dibbell teve o apoio de Falk Bergman, o avatar proprietário de uma livraria no SL que, além de comercializar livros reais, possui em seus jardins lindas cerejeiras e um telão de data show para apresentações. Foi nesse telão que Dibbel passou sua mensagem: a teoria do ludocapitalismo e sua recente experiência na China com os “garimpeiros”, jovens que vivem da venda de objetos virtuais, como tapetes de pele de urso, etc (ver post abaixo). Eduardo Viveiros de Castro, que tem tido problemas com o translado físico de seu corpo devido ao motim dos controladores de vôo e ao infame overbooking das companhias aéreas, ficou atônito. A experiência foi tão bem sucedida que o palestrante ausente conseguiu inclusive responder às perguntas da platéia. E por que não tivemos essa idéia antes?, perguntamos a ele. Because it's lunacy?, foi a sua pronta resposta.
UPDATE (17:52): A versão do Julian sobre esse ocorrido.
UPDATE (22:02): Aquela expressão citada por Julian ao final de sua palestra é Uncanny Valley, basicamente, um robô em forma humana causa menos empatia emocional que um personagem de desenho animado (realista ou não).
UPDATE (10/07): Hoje a Folha publicou a história (entrevista com Dibbell e Guest). Talvez pudessem ter explorado mais a presença virtual de Julian no evento, mas já está valendo.