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O Espaço Memória do Futuro no Second Life está apresentando, em seu telão
hiperscope, as duas primeiras partes de
i.Mirror, trabalho que a artista chinesa Cao Fei elaborou especialmente para a Bienal de Veneza. O próprio avatar da artista –
China Tracy – atua numa espécie de
machinima (cinematografia baseada em games) no Second Life, encontrando-se com outros avatares e filosofando sobre os efeitos da representação dentro de um universo imaterial. O trabalho virtual de Fei faz parte de uma instalação montada no
pavilhão Arsenale, onde ela levantou uma estrutura inflável branca que tem sido usada como espaço de
chill-out. O trabalho de Fei ativa uma série de interpretações e pensamentos "antropológicos" e isso vem a calhar após a palestra de Eduardo Viveiros de Castro no Simpósio Memória do Futuro, em que ele explicou a sua versão de tradução e relativismo, chamada de perspectivismo ameríndio. Em temos gerais: imagine-se vendo uma onça bebendo o sangue de uma presa abatida. Para nós, humanos, a onça bebe sangue; mas para a onça, é cerveja. A onça encara o mundo como os humanos o fazem. Portanto, haveria uma unidade cultural, uma alma do mundo, em contraponto a uma natureza múltipla, composta de diversos agentes corporais, a única via de diferenciação. Nos universos virtuais esse conceito é ampliado por meio de uma estranha metalinguagem: a sensação da multiplicidade dentro da natureza virtual é mais intensa e a variação dos corpos etéreos que o atravessam é mais nítida. A cultura que a sustenta, por outro lado, gera uma unicidade mais forte. A celebração da diversidade "corporal" e de uma cultura unívoca: parece ser essa a mensagem de China Tracy, ou melhor, Cao Fei.