28.2.07

Copie-me Se For Capaz!

O jornalismo cultural brasileiro virou um zumbi? Hoje a Folha publicou textos sobre duas exposições recém inauguradas na Oca: “Corpo Humano – Real e Fascinante” e a mostra dedicada a Leonardo Da Vinci. O mais assustador é que as duas matérias dão um foco especial ao fato de as obras serem "cópias", isso num tom moralista e alarmista, como se todos os problemas da arte se reduzissem à “reprodutibilidade técnica”, premissa benjaminiana citada – previsivelmente – por um dos críticos. Os estudos de Da Vinci foram realizados por copiadoras de fundo de quintal, enquanto os cadáveres plastinados de Glover são fumês espelhados, replicações oportunistas calcadas na polêmica exposição de Von Hagens. Vale tirarmos da estante o livro The Future of the Past, de Alexander Stille, para professorarmos aos senhores críticos que fac-símiles, no campo da arte e da cultura, são considerados, por mentalidades não ocidentais, obras sublimes que, em determinadas circunstâncias, até ultrapassam em excelência o objeto original. Senão, vejamos: na língua chinesa, segundo Stille, há duas expressões diferentes para "cópia": fang zhipin é o que mais se aproxima ao que nós, pobre ocidentais, chamamos de reprodução, ou seja, uma cópia barata e sem esmero. Já fu zhipin significa uma cópia perfeita, de alta qualidade, não raramente superior à matriz. Há, convenhamos, certa sabedoria nesta distinção. Ou não?
UPDATE (1/03): Há um museu nos EUA que se recusou a receber a exposição dos guerreiros de terracota de Xi’an (expostos há pouco tempo na mesma Oca), pelo fato de serem réplicas. Aqui, a mesma revelação causou choque e descrédito em muita gente. Dentro do mesmo assunto, o professor W. J. T. Mitchell, da universidade de Chicago, escreveu um paper sobre o impacto da genética e da ciência da computação na arte contemporânea, comparando a época atual com o momento da "revolução" de Walter Benjamin.

27.2.07

Fim do Sem Fim

América Latina, a fronteira final. Há a sensação de um novo meme se formando neste continente perdido e isso graças ao faro fino de Régine Debatty. Estaria o centro em outra freguesia? Algo situado no mesmo paralelo que a Ilha da Caveira? Tome-se, por exemplo, a 1º Bienal del Fin del Mundo, em Ushuaia, na Terra do Fogo, cujo tema é o círculo espaço-temporal e a sucessão de momentos indivisíveis (Hume, citado por Itaulab). O projeto arquitetônico, que agrega o famoso Farol do Fim do Mundo (retratado por Júlio Verne no livro e em filmes com o mesmo nome; o grande Yul Brynner foi protagonista em uma das versões cinematográficas) é de Pedro Mendes da Rocha e Vasco Caldeira. Outro fato digno de atenção é a parceria entre Colômbia e Suécia num evento chamado Bogotrax, que terminou ontem. O destaque vai para Erik Sandelin e Magnus Torstensson, que saíram a campo direto da Escandinávia para demonstrar a Ophonine Pophorn, um gravador de loops para celulares. Animados, os dois seguem para Medellín em seguida. Há algo de perfumado no reino da Dinamarca. E dos Arruaco.

23.2.07

Africa Unite

O problema da África é nosso parco conhecimento acerca do continente. Nossa visão da estética, saúde e política africanas é muito rasa. Há uma trave em nossos olhos. Se almejares olhar sem traves, mate teu “tuga” interior. Por falar em “tuga”, um trecho filosófico de Mayombe: Nasci na Gabela, na terra do café. Da terra recebi a cor escura de café, vinda da mãe, misturada ao branco defunto do meu pai, comerciante português. Trago em mim o inconciliável e é este o meu motor. Num Universo de sim ou não, branco ou negro, eu represento o talvez. Talvez é não para quem quer ouvir sim e significa sim para quem espera ouvir não. A culpa será minha se os homens exigem a pureza e recusam as combinações? Sou eu que devo tornar-me em sim ou em não? Ou são os homens que devem aceitar o talvez? Face a este problema capital, as pessoas dividem-se aos meus olhos em dois grupos: os maniqueístas e os outros. É bom esclarecer que raros são os outros, o Mundo é geralmente maniqueísta.

11.2.07

Salvadores da Pátria Publicitária

Os terroristas semióticos do Exército da Salvação podem ser mais low tech, mas não são menos criativos que os perpetradores do estranho evento Turner/Boston...


UPDATE (13/02): Sergio Kulpas, em sua resenha sobre "O Homem Duplo", acrescenta mais informações sobre o assunto.

9.2.07

Tranqueiras Vitorianas

Em primeira instância, enquadra-se no campo do design. Mas, por extensão, no campo da device art. Aqui estão as luminárias steampunk de Herr Buchwald.

7.2.07

A Invenção do Turbo

Atualmente, as discussões sobre cultura giram em torno de contraposições diversas que, grosso modo, são sumarizadas na questão dos choques culturais. Pop versus cultura popular é um bom exemplo. Há hoje quem ainda insista em contrapor o multiculturalismo (agora sob a alcunha de “hibridismo”) às manifestações culturais puras, como aquelas que surgem, na ingênua concepção de seus defensores, por “partenogênese”. Aparentemente, não se discute tanto na academia os mecanismos pelos quais supostas tradições culturais são apropriadas com o intuito de legitimar nacionalismos não tão progressistas (aliás: existe nacionalismo progressista?). Quem mais próximo chegou a tocar no assunto foi Eric Hobsbawn no livro “A Invenção das Tradições”. No primeiro capítulo, o historiador inglês demonstra como as tradições escocesas foram forjadas por um grupo de irlandeses que migraram para as Highlands e assim agiram para fundar uma memória inexistente e uma “tradição nacional”. Assim, o kilt e até o famoso poema “caledônio” Ossian, admirado até por agentes do romantismo (ver a obra acima de Ingres), são simplesmente representações de uma fraude. A discussão que urge voltar à pauta dos acadêmicos é exatamente como as tradições tornam-se, com o excesso de repetição, cerimoniais vazios, mas repletos de intenções ideológicas ocultas. Tornam-se, assim, uma pageantry. O maior problema é colocar tradições que não são costumes (estes, sim, orgânicos e afeitos a releituras, desconstruções e upgrades) a serviço de políticos inescrupulosos. Foi assim que surgiu, na antiga Iugoslávia, o turbo-folk, um pastiche de gênero musical que virou o verdadeiro hino dos Chetniks, os nacionalistas sérvios. Assim, o historiador que entender como a cultura popular é transformada em turbo estará em vantagem competitiva.

Claro que o delicioso reggae feminista-steampunk-turbofolk da banda iraniana Abjeez (obrigado, Bruce Sterling!) está fora da discussão.
UPDATE (22:56): O choque de culturas, em alguns casos, pode ser bem feio. Não pela grafia do cartaz ou pelo filme propriamente dito; mas pelo comentário.
UPDATE (8/02): Não apenas a cultura popular está sujeita às apropriações nacionalistas, mas também o Pop. Os desenhos animados destinados aos soldados norte-americanos da Segunda Guerra Mundial talvez seja um exemplo. E, se observarmos com mais atenção, o novo reality show Who Wants to Be a Superhero? se enquadra neste particular também. Outra reflexão: os nazistas não apenas foram beber na fonte da mitologia alemã, mas também no classicismo, a estabilidade e a tradição por excelência (chega a ser cômico visualizar um apolíneo vestido com um lederhosen).
UPDATE (17:05): Boris Buden receita a idéia de "tradução cultural" contra o mal do nacionalismo. Segundo ele, a cultura entrou em todos os poros da sociedade pós-moderna, substituindo inclusive o termo "sociedade". Isso seria possível se considerássemos a cultura como uma idéia (procurar a expressão "common culture" dentro do livro The Idea of Culture, de Terry Eagleton. O Google Book Search pode auxiliar maravilhosamente nessa tarefa). Buden alerta, porém, para algumas falhas conceituais da teoria Pós-Colonialista, como a concepção das "identidades híbridas", o outro lado da moeda essencialista que pode dificultar a emancipação universal proposta pela teoria da cultura supranacional.
UPDATE (9/02): Os pequenos ensaios dispostos neste blog são provocações no bom sentido. Não há a pretensão de provocar os gigantes do ringue. Somos livres pensadores e abrimos nossas fontes e metodologias de pesquisa. Por exemplo, a aquisição de conhecimento que embasa os posts é fundamentada, basicamente, no tripé Wikipedia, Google Book Search e Tachiyomi (hábito no Japão de se ler livros em pé nas livrarias).

UPDATE (23/02): Mas o que dirão os críticos estipendiados? Bem, além dos três métodos suspeitos acima, há também a compra e leitura de livros, uma das tecnologias mais bem sucedidas que se tem notícia.

Título

O brasileiro Márcio Ambrósio, grafista e animador, vive atualmente na Bélgica e acaba de inaugurar uma instalação de vídeo em Bruxelas (vai até 28 de fevereiro). O projeto chama-se Oups! e é basicamente uma instalação na qual os visitantes interagem com um universo de animações. O esquema é bem-bolado, com três camadas: projeção de fundo, “personagem” (participante) no meio e desenho animado sobrepondo tudo. O trabalho tem um sabor de "Messa di Voce".

3.2.07

Anti-folklore

Bull Dancing, espetáculo concebido por Marcelo Evelin e apresentado no SESC Ipiranga durante o presente fim de semana, pode ser considerado um exemplo de "cultura supranacional", uma hipótese calcada na idéia mítica dos Registros de Akasha e nas idéias de alteridade do escritor polonês Ryszard Kapuscinski, o intérprete das culturas (a hipótese requer um texto à parte, mais apurado *). As culturas que compõem a cultura supranacional não estariam estanques em bunkers nacionais e, no que pese a suas origens, estariam no mesmo patamar do que os místicos hebraicos chamam de protolinguagem. O espetáculo de Evelin procura justamente tecer uma malha cultural acima das convenções puristas. Por exemplo, colocar Monika Haasova como uma minnessinger vestida de índia ao lado do "boi esquartejado" é de uma ousadia ímpar. A atriz eslovena também faz uma analogia entre as partes do corpo humano e as peças do boi, reforçando possíveis conotações sexuais estabelecidas pelas categorias de dominatrix, masotrix e (até!) machotrix.

A "farra do boi" perpetrada pelo grupo de Marcelo Evelin remete, arbitrariamente, aos infames experimentos com animais realizados pelo médico italiano Giovanni Aldini (1762-1834) e...

...também aos rituais pagãos das ilhas Hébridas de culto ao deus-sol Nuada, retratados tão bem no filme cult da década de 70, The Wicker Man (porém, ao invés do homem-boi, há lá o hobbyhorse, ver imagem acima). O espetáculo remove da cultura popular o ranço do folklore e promove um anti-folklore, com uma roupagem que teria assaz agradado à Oiticica.

* O texto à parte, mais apurado, está aqui.

2.2.07

Normal Map

Mapa mundial de desenvolvedores de games. Basta clicar nas cidades para abrir uma lista de empresas com links. Até que o Brasil está bem representado.

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