3.2.07

Anti-folklore

Bull Dancing, espetáculo concebido por Marcelo Evelin e apresentado no SESC Ipiranga durante o presente fim de semana, pode ser considerado um exemplo de "cultura supranacional", uma hipótese calcada na idéia mítica dos Registros de Akasha e nas idéias de alteridade do escritor polonês Ryszard Kapuscinski, o intérprete das culturas (a hipótese requer um texto à parte, mais apurado *). As culturas que compõem a cultura supranacional não estariam estanques em bunkers nacionais e, no que pese a suas origens, estariam no mesmo patamar do que os místicos hebraicos chamam de protolinguagem. O espetáculo de Evelin procura justamente tecer uma malha cultural acima das convenções puristas. Por exemplo, colocar Monika Haasova como uma minnessinger vestida de índia ao lado do "boi esquartejado" é de uma ousadia ímpar. A atriz eslovena também faz uma analogia entre as partes do corpo humano e as peças do boi, reforçando possíveis conotações sexuais estabelecidas pelas categorias de dominatrix, masotrix e (até!) machotrix.

A "farra do boi" perpetrada pelo grupo de Marcelo Evelin remete, arbitrariamente, aos infames experimentos com animais realizados pelo médico italiano Giovanni Aldini (1762-1834) e...

...também aos rituais pagãos das ilhas Hébridas de culto ao deus-sol Nuada, retratados tão bem no filme cult da década de 70, The Wicker Man (porém, ao invés do homem-boi, há lá o hobbyhorse, ver imagem acima). O espetáculo remove da cultura popular o ranço do folklore e promove um anti-folklore, com uma roupagem que teria assaz agradado à Oiticica.

* O texto à parte, mais apurado, está aqui.

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