20.5.07

O Monstro de Seul

O filme “O Predador”, que está em cartaz, é imperdível por diversos motivos. Em primeiro lugar, o diretor sul-coreano Bong Joon-ho foi chamado de “Gogol de Seul” pela revista Artforum de janeiro. O monstro do filme pode até lembrar um pouco o do “Alien, o Oitavo Passageiro”, mas tem em abundância características clássicas, menos para Gojira e mais para o trabalho de Ray Harryhausen. Terceiro, sublinha a narrativa principal um sofisticado discurso político contra a imposição de “culturas” e “sociologias”. Por fim: a direção de arte e a trilha sonora (a direção geral, em suma) são brilhantes.

15.5.07

Universos e Metaversos


Há certas observações que não querem calar sobre o Second Life, o universo massivo que virou hype absoluto. A falta de criatividade arquitetônica, por exemplo, é uma limitação do programa interno de construção, o builder, "um programa primitivo (...), que possui apenas formas volumétricas básicas, como cubos, prismas e cones", segundo o designer uruguaio Fernando Vasquez (LINK, 14/05). Deve ser por esse motivo que largas porções do SL estão se transformando em verdadeiras "cidades fantasmas". Isso já foi martelado, inclusive nesse blog. Há outras considerações, mais antropológicas, a serem analisadas. Não é incrível que um universo virtual, onde as regras da sociedade real estão a anos luz de distância, reflita – de forma ampliada, suspeita-se – as mesmas normas de convivência? É o caso do "efeito elevador", por exemplo. Não são muito bem vistas e recebidas aproximações um tanto quanto excessivas, contatos visuais incisivos ou mesmo toques corporais não solicitados. É muito ocidental esse tipo de comportamento. Eurocêntrico, diríamos. O antropólogo italiano Massimo Canevacci – que passou ontem pelo Itaulab e gentilmente nos forneceu um texto, para a honra de CIBERCULTURA – tem o projeto de realizar missões etnológicas dentro do SL. Ele pretende criar um avatar chamado Malinowski II para realizar tal tarefa. Nada mais apropriado, já que o famoso antropólogo polonês era um funcionalista, isto é, acreditava que a práxis determina a cultura, e não vice-versa. Não apenas isso: para o funcionalismo, todas as ações, práticas e comportamentos humanos são determinados por impulsos biológicos básicos, justificados por interesses puramente econômicos. A proposta de Canevacci é deveras interessante. O produto não se tornou amplamente comoditizado? Mas fazemos uma contraproposta: não seria melhor criar o avatar Sahlins II? Ou um Viveiros II? Eles, com certeza, inverteriam a lógica da cultura e da razão prática. Colocariam um pouco mais de humanidade e subjetividade no Second Life. Independente das questões arquitetônicas e antropológicas vale muito à pena prestar atenção para as decorrências deste universo (ou metaverso?). Em breve, um call for performances...

2.5.07

Espelho Seu

Um dos traumas da cultura ocidental são as apropriações de conceitos, idéias, etc. Uma imagem mental é algo que se pode cercear como uma propriedade física? Uma das soluções para esse problema é reinstalar a noção de sincronicidade para justificar as coincidências simbólicas que ocorrem em tempos e espaços diferentes.


O prólogo é para comentar sobre "A Invenção de Loren", peça da dramaturga e diretora Ana Roxo que estreou no espaço dos Satyros Dois, em São Paulo. Basicamente, o argumento é sobre uma empresa especializada em fornecer amigos imaginários para pessoas solitárias. Há um foco em mulheres virtuais, e um exemplo que vêm à cabeça é a Gazira Babeli. De qualquer modo, é absolutamente incrível a semelhança da dramaturgia com o projeto LOREN, THE TEXTUAL-WOMAN, de 1997. Não há uma acusação de plágio. Há apenas o desejo de entender a sincronicidade. Nada mais. Há também o desejo de comentar o fenômeno com a diretora. Ana Roxo: você está copiando (na acepção radioamadora)? Se sim, entre em contato, por favor.