15.5.07

Universos e Metaversos


Há certas observações que não querem calar sobre o Second Life, o universo massivo que virou hype absoluto. A falta de criatividade arquitetônica, por exemplo, é uma limitação do programa interno de construção, o builder, "um programa primitivo (...), que possui apenas formas volumétricas básicas, como cubos, prismas e cones", segundo o designer uruguaio Fernando Vasquez (LINK, 14/05). Deve ser por esse motivo que largas porções do SL estão se transformando em verdadeiras "cidades fantasmas". Isso já foi martelado, inclusive nesse blog. Há outras considerações, mais antropológicas, a serem analisadas. Não é incrível que um universo virtual, onde as regras da sociedade real estão a anos luz de distância, reflita – de forma ampliada, suspeita-se – as mesmas normas de convivência? É o caso do "efeito elevador", por exemplo. Não são muito bem vistas e recebidas aproximações um tanto quanto excessivas, contatos visuais incisivos ou mesmo toques corporais não solicitados. É muito ocidental esse tipo de comportamento. Eurocêntrico, diríamos. O antropólogo italiano Massimo Canevacci – que passou ontem pelo Itaulab e gentilmente nos forneceu um texto, para a honra de CIBERCULTURA – tem o projeto de realizar missões etnológicas dentro do SL. Ele pretende criar um avatar chamado Malinowski II para realizar tal tarefa. Nada mais apropriado, já que o famoso antropólogo polonês era um funcionalista, isto é, acreditava que a práxis determina a cultura, e não vice-versa. Não apenas isso: para o funcionalismo, todas as ações, práticas e comportamentos humanos são determinados por impulsos biológicos básicos, justificados por interesses puramente econômicos. A proposta de Canevacci é deveras interessante. O produto não se tornou amplamente comoditizado? Mas fazemos uma contraproposta: não seria melhor criar o avatar Sahlins II? Ou um Viveiros II? Eles, com certeza, inverteriam a lógica da cultura e da razão prática. Colocariam um pouco mais de humanidade e subjetividade no Second Life. Independente das questões arquitetônicas e antropológicas vale muito à pena prestar atenção para as decorrências deste universo (ou metaverso?). Em breve, um call for performances...