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Em recente
artigo para o
The Independent, Tom Lubbock analisa o quanto explicações sobre obras de arte contemporânea têm ganhado mais ênfase do que a própria obra explicada. Usou como exemplo a performance “Work No. 850”, de Martin Creed, em que
sprinters correm pelos corredores da Tate Britain em intervalos regulares. O problema de se textualizar esse tipo de trabalho, afirma o crítico, é que isso elimina interpretações pessoais levantadas por observadores únicos. E não é que há certa razão nesse argumento? Por que teríamos que saber que o trabalho de Creed “celebra o físico e o espírito humano”? Além de ser ululante, esse tipo de explicação mata possíveis análises mais complexas, como a que ligaria a performance àquela cena em que os personagens do filme
Jules et Jim apostam corrida pelos saguões do museu do Louvre. Afinal, esse não é um tipo de comportamento esperado num ambiente sóbrio como o de um museu, e essa é uma das propostas de Creed. Algumas pessoas têm
notado a falta de “explicações” sobre as obras da quarta edição da bienal internacional de arte e tecnologia no Itaú Cultural. Uma das estratégias dos organizadores é fazer uma breve preleção a respeito do conceito no
lobby de entrada e deixar que os visitantes façam suas devidas associações, articulem referências, estipulem deduções, processem redefinições e realizem suas próprias experiências estéticas. Obviamente, há um catálogo no prelo, onde estarão dispostos textos mais robustos sobre obras e conceito. Além disso, há os educadores circulando pelo espaço munidos com informações adicionais. O que não há – e nunca haverá – é uma lousa professoral no altar de Isenheim.