27.3.08
Cinema e Arte Contemporânea
Há dois bons motivos para se ir à exposição Colateral 2, no SESC Avenida Paulista: “Kristall”, de Christoph Girardet e Matthias Muller, e “The Jungle Book Project”, de Pierre Bismuth. O primeiro é uma primorosa edição de copiões dos anos 40-60 na qual é desenvolvida uma narrativa com cenas de diversos atores se vendo em espelhos. Uma trilha sonora de andamento tétrico torna o resultado final inquietante, e nem é preciso citar Borges: os espelhos são assustadores apenas por refletirem aspectos sombrios da natureza humana, como culpas imperdoáveis, perdas de identidade e dúvidas pronominais. No segundo trabalho, os personagens do clássico da Disney (baseado em história de Rudyard Kipling) são dublados por vozes pronunciadas em diversas línguas, uma cacofonia lingüística que proporciona estranhamentos antropológicos. Mais do que isso: a língua artificial faz-nos voltar a crer num animismo no qual animais e humanos compartilham uma mesma Cultura e, por conseguinte, uma mesma alma. Em termos gerais, o SESC promoveu uma exposição sobre como a arte contemporânea se apropria das linguagens cinemáticas em suas expressões. Um conceito mais ousado foi usado na exposição Fate of Alien Modes, que aconteceu em 2003 na Secession, em Viena. Neste caso, foi preferida a diegese ao invés da mimese, explicando, o curador optou não por mostrar as apropriações e conflitos entre arte e cinema, mas sim narrá-los, seja por meio dos modos de produção cinematográfica, seja por meio dos sub-textos inerentes.