16.12.08
Ermitão
O Manchester Museum, mantido pela Universidade de Manchester, procura artistas do mundo inteiro para habitar a torre do museu (ver círculo vermelho) como um ermitão durante oito semanas, começando em maio de 2009. Vale para artistas de qualquer disciplina. Será que o Maurício Ianês, que realizou algo semelhante (mas por 42 dias) na Bienal do Vazio, não poderia se interessar? Alguém poderia apontar o link para ele? O cachê pela residência pode variar de £8.000 a £12.000.
27.11.08
Ondas e Ondinas
Tem início hoje o Simpósio Vivo Arte.mov, alcunhado de "Apropriações do (in)comum: espaço público e privado em tempos de mobilidade". O line-up internacional é impressivo: destaque para Mirjam Struppek (Urban Screens) [ei, editores, acertem o nome da moça no site!], Nick Tandavanitj (Blast Theory) e a blogger celebrity Régine Debatty [parece que a moça gostou de São Paulo: I arrived yesterday in São Paulo and i still have to recover from the shock. This is the new Berlin, the new New York, the new 'i've never seen such an exciting place before.']. Aparentemente, o eixo central dos conteúdos temáticos gira em torno de como o espaço físico e espectral pode ser encarado como uma espécie de bem comum (commons). Quanto ao segundo caso, o espectro eletromagnético não é uma quitinete, mas sim um enorme pasto etéreo onde artistas se tornam produtores (no sentido benjaminiano) e usuários finais broadcasters. Se for isso, o programa é atual, premente, urgente. Será que a besta vai ser contestada de dentro de seu próprio ventre, por Jonas tecnológicos irados? A se ver.
UPDATE (2/12): Texto sobre políticas de uso do espectro eletromagnético.
UPDATE (2/12): Texto sobre políticas de uso do espectro eletromagnético.
12.11.08
Horror Vacui
Ao invés de criticar o formato da Bienal de Artes de São Paulo, talvez seja mais produtivo fazer “associações livres” em relação à “planta livre” do Niemeyer. Na Folha do último domingo, o crítico Jorge Coli lembrou que Yves Klein pintou de branco a galeria Iris Klert em Paris, na década de sessenta. Na mesma década, em 1969, Robert Barry divulgou panfletos apócrifos sobre o fechamento da galeria que o convidou para montar uma exposição. Em 1973, Mierle Laderman Ukele trancou as portas do museu Wadsworth Atheneum (Connecticut, EUA), numa performance durante a qual discutiram-se os sistemas de poder dos museus de arte. Curiosos são os desdobramentos dessas ações. Por exemplo, durante sua residência no OCAD (Ontário College of Art & Design), em 2007, Rirkrit Tiravanija foi convidado para uma individual na galeria da universidade. Corajosamente, ele resolveu apenas levantar um muro de tijolos na entrada de acesso ao espaço, sobre o qual pichou: NUNCA TRABALHE (imagem acima). Um truque? Não. Internamente, foi desenvolvida uma instalação de arte e vida, revelada ao público apenas meses depois, transformando desconfiança generalizada em expectativas preenchidas. Fala-se muito hoje em exposições “sem forma”, principalmente depois da Documenta 12. Mas o que acontece no Ibirapuera talvez seja algo “sem estribeira”.
20.10.08
Viva e Deixe Morrer
Após um breve período de mordaça, explicado em parte pela participação do Itaulab em recente evento no Espacio Fundación Telefónica, em Buenos Aires, o blog retorna à ativa comentando a atual discussão que se desenrola na lista do CRUMB (Curatorial Resource for Upstart Media Bliss), repositório obrigatório para todos os que atuam na fronteira entre arte contemporânea e artemídia (pegando o gancho taxonômico usado atualmente pela Mostra Sesc de Artes). Criou-se o quid pro quo em função do fechamento do departamento de Live & Media Arts do ICA, em Londres, decisão anunciada com ares de pêsames por Emma Quinn. Não ficou exatamente claro se foi tomada por motivos financeiros ou ideológicos, mas a iniciativa disparou uma discussão acalorada sobre a real necessidade de se separar “arte tecnológica” e arte contemporânea. Em suma, se o campo será assimilado ou simplesmente destruído pelo roldão da arte contemporânea. Segundo comentários de diversos luminares, parece que há um fundamento historicista tanto na separação, como na possibilidade de assimilação, a qual, por sua vez, evoca a idéia do “retorno do reprimido”. É notável que até hoje ainda não se tenha chegado a um acordo sobre a própria forma de categorizar essas novas práticas artísticas. Seria então a artemídia uma atualização das artes liberais? Independente do termo ou da nomenclatura, aparentemente o que vale é a ação. Para uns, as práticas em geral independem da mídia (ou da técnica aplicada); para outros, as práticas específicas acoplam novamente arte e técnica, indivisíveis por natureza. De qualquer maneira, a desconfiança de unir arte e indústria (setor artífice da técnica) vem de outros carnavais, como lembra Walter Benjamin (Passagens, UFMG e Imprensa Oficial) quando analisa as grandes exposições industriais ocorridas principalmente na França e Inglaterra durante o século 19. E, mais recentemente, os organizadores da exposição Art and Technology, ocorrida no Los Angeles County Museum of Art em 1969, observaram que alguns artistas ficaram bem incomodados com a possibilidade de desenvolver projetos em conjunto com empresas de alta tecnologia da época (entre eles estava Claes Oldenburg). É pouco provável que a discussão de CRUMB chegue a uma conclusão. Certamente, é sintomática. E merece um texto à parte.
20.9.08
Boi Cibernético
Começa hoje a segunda edição de Invisibilidades, evento promovido pelo núcleo de Diálogos do Itaú Cultural. Fábio Fernandes, curador desta edição (o da primeira foi Roberto Causo), optou por dar espaço a emergentes e “malditos”, entidades um tanto quanto distantes do habitat tradicional dos essencialistas do fandom. Portanto, é de se esperar papos do tipo: como canibalizar (no sentido antropofágico) a New Weird, nova tendência da literatura fantástica que mistura Kafka e Lovecraft? É possível praticar, ao mesmo tempo, alta literatura e ficção científica? Qual o estado de coisas da literatura de antecipação nacional? Aliás, essa é uma boa pauta, já que o gênero que agrega ficção científica, horror e fantástico está em franca ascensão, no mundo e no Brasil. Para se ter idéia, a comunidade brasileira de ficção científica no Orkut conta com 4.468 assinantes, número nada desprezível. Tirante as enormes brigas de gangues ao estilo “Quadrophenia” (metaforicamente correto seria dizer: “Guerra dos Guararapes”), o presente da FC nacional vai muito bem obrigado, com o surgimento de novas editoras e autores. Ou seja, as discussões prometem. Seria interessante contrapor o ensaio de Clive Thompson – no qual critica-se o excesso de realismo na literatura contemporânea – e a pensata de Jean Baudrillard que propõe o atropelamento da ficção científica pelo caminhão da hiperrealidade, um bloco maciço composto por modelos destacados do real e mapas maiores que o território. Talvez não seja esse um pensamento tão farsante, considerado o inevitável choque de frente entre real e imaginário.
Exemplos? Há dois só em Jornada nas Estrelas: O Problema com Pingos [The Trouble With Tribbles] não tem tudo a ver com os ativos tóxicos da Lehman Brothers?
A Máquina da Destruição [The Doomsday Machine] não é o próprio Colisor de Hádrons (que, segundo o físico Victor Weisskopf, será a “catedral gótica do século 20” [Der Tagesspiegel, 11/09])? (parênteses: veja o post Doomsday Machines). Voltando ao Invisibilidades II... Lá estará Bráulio Tavares, que acabou de lançar um blog só sobre a obra de Thomas Disch, poeta que se enveredou pela ficção científica. Fausto Fawcett, o nosso Rotwang, criador não de Maria, mas da andróide mais cobiçada do Brasil, Regininha Poltergeist. Alfredo Suppia, especialista em cinema de ficção científica nacional (sim, ele existe; e em profusão). Octavio Aragão, da Intempol. Sobre pós-modernismo: Jacques Barcia, Max Mallmann e os editores gaúchos da Não Editora. E muitos outros (Fernando Da Silva Trevisan blogando e Adriana Amaral twitterando). Como fecha, o quarto volume do Pecha Kucha Night, com destaque para Ronaldo Bressane lendo trechos de seu "Mnemomáquina" (junto com imagens nonsense by Madame Uviedo) e Lala Deheinzelin, apresentando seu think-tank futurista. Ficção cientifica nacional tem futuro? E como! Afinal, não é daqui o evento mais cyberpunk de todos: a festa do boi de Parintins?
UPDATE (23/09): o quarto volume do Pecha Kucha Night foi um arraso! Parece que houve um consenso sobre o fato de ter sido o volume mais legal. Sessão momentos inesquecíveis...
As clowns Sabiá e Ubbá tiram sarro do universo da FC e, de quebra, tiram sarro do público também (e principalmente do MC!)
O pernambucano Jacques Barcia lê um trecho de Meu nome é interno, ficção new weird brazuca que explora conexões entre a cadeia de segurança máxima e a síndrome de locked-in.
E Alfredo Suppia tece uma hilariante narrativa com fotogramas do cinema de FC nacional (o público se esbaldou!)
UPDATE (24/09): E aqui está a apresentação de Filipe Gabriel Silva no YouTube...
Exemplos? Há dois só em Jornada nas Estrelas: O Problema com Pingos [The Trouble With Tribbles] não tem tudo a ver com os ativos tóxicos da Lehman Brothers?
A Máquina da Destruição [The Doomsday Machine] não é o próprio Colisor de Hádrons (que, segundo o físico Victor Weisskopf, será a “catedral gótica do século 20” [Der Tagesspiegel, 11/09])? (parênteses: veja o post Doomsday Machines). Voltando ao Invisibilidades II... Lá estará Bráulio Tavares, que acabou de lançar um blog só sobre a obra de Thomas Disch, poeta que se enveredou pela ficção científica. Fausto Fawcett, o nosso Rotwang, criador não de Maria, mas da andróide mais cobiçada do Brasil, Regininha Poltergeist. Alfredo Suppia, especialista em cinema de ficção científica nacional (sim, ele existe; e em profusão). Octavio Aragão, da Intempol. Sobre pós-modernismo: Jacques Barcia, Max Mallmann e os editores gaúchos da Não Editora. E muitos outros (Fernando Da Silva Trevisan blogando e Adriana Amaral twitterando). Como fecha, o quarto volume do Pecha Kucha Night, com destaque para Ronaldo Bressane lendo trechos de seu "Mnemomáquina" (junto com imagens nonsense by Madame Uviedo) e Lala Deheinzelin, apresentando seu think-tank futurista. Ficção cientifica nacional tem futuro? E como! Afinal, não é daqui o evento mais cyberpunk de todos: a festa do boi de Parintins?
UPDATE (23/09): o quarto volume do Pecha Kucha Night foi um arraso! Parece que houve um consenso sobre o fato de ter sido o volume mais legal. Sessão momentos inesquecíveis...
As clowns Sabiá e Ubbá tiram sarro do universo da FC e, de quebra, tiram sarro do público também (e principalmente do MC!)
O pernambucano Jacques Barcia lê um trecho de Meu nome é interno, ficção new weird brazuca que explora conexões entre a cadeia de segurança máxima e a síndrome de locked-in.
E Alfredo Suppia tece uma hilariante narrativa com fotogramas do cinema de FC nacional (o público se esbaldou!)
UPDATE (24/09): E aqui está a apresentação de Filipe Gabriel Silva no YouTube...
2.9.08
Cibernética e Arte
Teve início no ultimo dia primeiro uma poderosa discussão no diretório de listas Yasmin sobre a seminal exposição Cybernetic Serendipity, ocorrida no ICA, Londres, durante o verão florido de 1968. Cybernetics Serendipity Redux é capitaneada por Ranulph Glanville, notório pesquisador inglês de cibernética. Junto com ele, o Itaulab montou uma comunidade Ning, chamada Cybernetics – Art – Design, com o intuito de servir de repositório para toneladas de material iconográfico e discussões paralelas. Além de Glanville, faz parte da lista do Yasmin um time de peso: Jasia Reichardt (curadora do CS), Paul Brown (artista inglês fundamental), Paul Pangaro (dispensa apresentações a quem acompanha o trabalho do Itaulab), Roger Malina, entre outros. Isso tudo é indispensável para os interessados na intersecção entre arte e cibernética (principalmente a de segunda ordem). Todos estão convidados.
21.8.08
Mimesis de Quarto Grau
Desde que Ted Turner parou de colorizar filmes antigos – por motivos econômicos, é sempre bom lembrar – o debate a respeito desse procedimento aparentemente morreu. Mas o da apropriação de trabalhos alheios, não. Que o diga a fotógrafa e artista Sherrie Levine, mais conhecida por ter (re)fotografado as imagens realizadas por Edward Weston na época da Grande Depressão, assinando-as depois como suas (imagem abaixo). Sutilmente, Felipe Maciel reacende a discussão com fotos colorizadas de Henri Cartier-Bresson, simplesmente o ícone do P&B. Os projetos de Maciel e Levine são diferentes na aparência, mas similares na essência, se encararmos o procedimento não como apropriação, mas como complemento, co-autoria, colaboração, co-criação, co-(insira aqui a palavra desejada). Não há como não pensar em Platão nesse momento, que considerava toda a arte a imitação de uma imitação, um produto situado a três graus de separação da sua versão ideal. Se vivo fosse, Platão aumentaria um grau para esse tipo de produção. Hoje, as coisas estão mais calmas e, enquanto Levine se contenta em reencenar peças de Gertrude Stein, Woody Allen, o maior crítico da colorização de filmes, dorme mais tranqüilo. Mas o debate deve continuar. De todas as reações previstas por Maciel em seu blog, todas relacionadas a sentimentos de revolta, sente-se a ausência de apenas uma: “perplexidade”.
18.8.08
Nonada
Não é de hoje que este blog anuncia e preza uma certa publicação portuguêsa. Pois, pois. A revista NADA vai ser lançada em São Paulo amanhã, no SESC-SP (Av. Paulista, 119 - 15 andar). Além do lançamento, haverá bate-papo com autores (será que Eduardo Viveiros de Castro vai estar lá?), set experimental do DJ Camilo Rocha e projeção de fotos de Christian Pierre Kasper. En passant: você gosta de ficção científica? Então se ligue no quarto volume do Pecha Kucha Night - São Paulo!
3.8.08
¡Viva la Muerte!
Um blitzkrieg contra a exposição de Duchamp no Museu de Arte Moderna de São Paulo foi perpetrado hoje na Folha de São Paulo. O mais insidioso partiu de um teatrólogo germano-brasileiro que, depois de desenvolver diatribes sobre a inutilidade de se montar uma exposição como essa, terminou o ataque com a frase: A ARTE ESTÁ MORTA (em caixa alta mesmo). Será mesmo? O paradoxo da morte da arte já foi parcialmente resolvido com a proposta do teórico Hubert Damisch, que se valeu da teoria dos jogos para concluir que “se a partida ‘pintura modernista’ está concluída, não significa necessariamente que o jogo ‘pintura’ está acabado” (citado por Yve-Alain Bois no texto “Pintura: a Tarefa do Luto”, Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais ECA/USP, 2006). Sejamos menos historicistas (por que não se inventa a história?, aconselhava Musil). Fujamos desse ramerrão de decretar a morte de seja lá o que for! Bola para frente! (imagem acima do imortal José Guadalupe Posada)
1.8.08
Doomsday Machines
Qualquer semelhança é mera coincidência: Large Hadron Collider e sua contraparte, não menos famosa... A maioria dos pesquisadores concorda que a energia total será de um bilionésimo da necessária para a criação de um buraco negro. O vilão, segundo os alarmistas, é a chamada flutuação quântica, que pode “emprestar” a energia suficiente por frações infinitesimais de segundo. A tréplica é que, se assim fosse, micro buracos negros já estariam por toda a parte, pois seriam extremamente comuns.
20.7.08
Contra-relógio
Em recente artigo para o The Independent, Tom Lubbock analisa o quanto explicações sobre obras de arte contemporânea têm ganhado mais ênfase do que a própria obra explicada. Usou como exemplo a performance “Work No. 850”, de Martin Creed, em que sprinters correm pelos corredores da Tate Britain em intervalos regulares. O problema de se textualizar esse tipo de trabalho, afirma o crítico, é que isso elimina interpretações pessoais levantadas por observadores únicos. E não é que há certa razão nesse argumento? Por que teríamos que saber que o trabalho de Creed “celebra o físico e o espírito humano”? Além de ser ululante, esse tipo de explicação mata possíveis análises mais complexas, como a que ligaria a performance àquela cena em que os personagens do filme Jules et Jim apostam corrida pelos saguões do museu do Louvre. Afinal, esse não é um tipo de comportamento esperado num ambiente sóbrio como o de um museu, e essa é uma das propostas de Creed. Algumas pessoas têm notado a falta de “explicações” sobre as obras da quarta edição da bienal internacional de arte e tecnologia no Itaú Cultural. Uma das estratégias dos organizadores é fazer uma breve preleção a respeito do conceito no lobby de entrada e deixar que os visitantes façam suas devidas associações, articulem referências, estipulem deduções, processem redefinições e realizem suas próprias experiências estéticas. Obviamente, há um catálogo no prelo, onde estarão dispostos textos mais robustos sobre obras e conceito. Além disso, há os educadores circulando pelo espaço munidos com informações adicionais. O que não há – e nunca haverá – é uma lousa professoral no altar de Isenheim.
17.7.08
De Uma Vizinha...
Senhores,
Não sei qual foi a intenção do artista que criou a decoração da fachada deste belo prédio, vizinho de onde eu moro. Para mim, porém, é a representação perfeita da mente humana, desde o nascimento até a velhice.
Assim: na parte superior, a superfície branca está marcada por poucos traços de diferentes cores, o que, a meu ver, indica as poucas noções que o bebê pode reconhecer nos seus primeiros tempos de vida: mãe, frio/calor, fome, mamar...
Quando cresce, aumentam as informações que povoarão sua mente. Este processo se intensifica ao longo da vida e, na terceira idade, os dados são tantos e tão variadas as noções impregnadas na mente do velho que não há espaço para mais nada. Uma informação nova que é dada ao idoso é imediatamente esquecida, por mais que ele se esforce para guardá-la, pois não haverá mais espaço em sua mente sobrecarregada. Da mesma maneira que, na fachada do Itaú, seria impossível acrescentar novos riscos, na parte mais baixa. Sobretudo a do lado direito.
Felizes seríamos se fosse possível “apagar” as lembranças inúteis e/ou mais antigas, de maneira a dar espaço para novos conhecimentos. Talvez Conan Doyle. (ver “Um Estudo em Vermelho” – romance em que Sherlock Holmes conhece o Dr. Watson e disserta sobre a necessidade de só armazenar na memória o que interessa) pudesse nos ensinar a resolver esse problema que, para mim, é insolúvel.
Parabéns ao artista responsável pela intrigante decoração do Itaú Cultural que tanto aprecio.
Atenciosamente,
Maria Luiza Martins Campos
Não sei qual foi a intenção do artista que criou a decoração da fachada deste belo prédio, vizinho de onde eu moro. Para mim, porém, é a representação perfeita da mente humana, desde o nascimento até a velhice.
Assim: na parte superior, a superfície branca está marcada por poucos traços de diferentes cores, o que, a meu ver, indica as poucas noções que o bebê pode reconhecer nos seus primeiros tempos de vida: mãe, frio/calor, fome, mamar...
Quando cresce, aumentam as informações que povoarão sua mente. Este processo se intensifica ao longo da vida e, na terceira idade, os dados são tantos e tão variadas as noções impregnadas na mente do velho que não há espaço para mais nada. Uma informação nova que é dada ao idoso é imediatamente esquecida, por mais que ele se esforce para guardá-la, pois não haverá mais espaço em sua mente sobrecarregada. Da mesma maneira que, na fachada do Itaú, seria impossível acrescentar novos riscos, na parte mais baixa. Sobretudo a do lado direito.
Felizes seríamos se fosse possível “apagar” as lembranças inúteis e/ou mais antigas, de maneira a dar espaço para novos conhecimentos. Talvez Conan Doyle. (ver “Um Estudo em Vermelho” – romance em que Sherlock Holmes conhece o Dr. Watson e disserta sobre a necessidade de só armazenar na memória o que interessa) pudesse nos ensinar a resolver esse problema que, para mim, é insolúvel.
Parabéns ao artista responsável pela intrigante decoração do Itaú Cultural que tanto aprecio.
Atenciosamente,
Maria Luiza Martins Campos
12.7.08
Ainda PKN-SP
As escritoras Andréa Del Fuego e Bruna Beber, em frente ao programa do Simpósio Emoção Art.ficial 4.0. Pelo rosto das duas, nota-se certa descontração pós-adrenalina. Del Fuego apresentou uma ficção sobre os condicionamentos estéticos a que estão sujeitas as mulheres na sociedade industrial. Já Bruna mostrou uma parte do currículo do Centro Educacional Futuro Incerto. Pelo visto o CEFI se preocupa com a excelência de seus alunos...
Ronaldo Bressane, um personagem não reconhecido, Cardoso e Bruna Beber. Bressane narrou suas últimas aventuras no Vale do Zuma. E o Cardoso é uma mistura simpática de MC e carrasco ("ainda não colocaram no mercado aquele gancho que aparece nos desenhos animados feitos para tirar personagens de cena"). Bruna Beber organizou uma festa pós PKN que, dizem, deve ser exportada para a próxima Flip ("sugiro que a franquia seja posta à disposição da Festa Literária de Paraty a partir de 2009...", disse Paulo Scott).
Roberto Kepler, Rúbia Paião, Edson Kumasaka, Fernanda D'umbra, Bruna Beber e o seu colega de CEFI. Kepler apresentou exemplos de sua poesia digital e Rúbia mostrou como funciona um "corpo performado". Já Fernanda e Edson extraíram personagens dos grafites da cidade e contaram uma historinha com eles. Uma idéia genial, não? As três fotos foram tiradas por Paulo Scott, um dos MCs convidados para o PKN-SP. Valeu, Scott!
Ronaldo Bressane, um personagem não reconhecido, Cardoso e Bruna Beber. Bressane narrou suas últimas aventuras no Vale do Zuma. E o Cardoso é uma mistura simpática de MC e carrasco ("ainda não colocaram no mercado aquele gancho que aparece nos desenhos animados feitos para tirar personagens de cena"). Bruna Beber organizou uma festa pós PKN que, dizem, deve ser exportada para a próxima Flip ("sugiro que a franquia seja posta à disposição da Festa Literária de Paraty a partir de 2009...", disse Paulo Scott).
Roberto Kepler, Rúbia Paião, Edson Kumasaka, Fernanda D'umbra, Bruna Beber e o seu colega de CEFI. Kepler apresentou exemplos de sua poesia digital e Rúbia mostrou como funciona um "corpo performado". Já Fernanda e Edson extraíram personagens dos grafites da cidade e contaram uma historinha com eles. Uma idéia genial, não? As três fotos foram tiradas por Paulo Scott, um dos MCs convidados para o PKN-SP. Valeu, Scott!
10.7.08
Party on!
DJ Dibaba (acima), alter ego de Olle Cornéer, um dos autores de Bacterial Orchestra, gira os discos na festa de abertura da bienal internacional de arte e tecnologia de São Paulo, no último dia primeiro. Abaixo, Dimitre Lima, um dos magos da arte generativa brazuca, em performance de living image. Ao seu lado, Jarbas Jacome, com seu ViMus (software flexível que pode ser usado no VJeing – trabalho vencedor do Rumos Arte Cibernética, carteira pesquisa), remixa desenhos feitos na hora pelos festeiros com seu aplicativo. É a emergência invadindo todos os aspectos do evento.
8.7.08
O Veículo Luz
A "Vênus Platinada" realizou aqui e acolá reportagens sobre a “Bienal Internacional de Arte e Tecnologia”, sem dar nome aos bois. Há um lado positivo nisso: o evento Emoção Art.ficial já é uma instituição na cidade de São Paulo. Já Edilamar Galvão preferiu não só nomear os objetos, como conseguiu audaciosamente ir onde nenhum veículo (de imprensa) jamais esteve.
7.7.08
Connect or Die
Na íntegra, o vídeo do Dr. Wires no primeiro volume do Pecha Kucha Night - São Paulo. Verdadeiro agent provocateur, fomentador de boas conspirações e pregador da conectividade (não apenas no sentido tecnológico), o "misterioso e performático" personagem (nas palavras de Cardoso, um dos MCs do PKN-SP), demonstrou por A + B como os observadores imprimem sentido às obras de arte, procedimento que quase cria uma co-autoria. Wow!
4.7.08
Club
Astrid Klein, uma das idealizadoras do Pecha Kucha Night, dá as boas-vindas ao Pecha Kucha Night - São Paulo, que foi inaugurado ontem, no auditório principal do Itaú Cultural. O blog da Folha Online postou as razões pelas quais o formato foi trazido para integrar o simpósio Emoção Art.ficial 4.0 - Emergência!
2.7.08
Fios Prateados
Dr. Wires e um dos organizadores da exposição Emoção Art.ficial 4.0 - Emergência! trocam memórias na festa de abertura do evento, que contou com mais de 1.200 pessoas.
Regras Simples
Amanhã começa a grande maratona do Pecha Kucha Night - São Paulo, parte integrante do Simpósio Emoção Art.ficial 4.0 - Emergência! Os participantes são: Andrea Del Fuego, Roberto Keppler, Angelo Palumbo, Dr. Wires, Ronaldo Bressane, Bruna Beber, Fernanda D'umbra + Edson Kumasaka, Marion Velasco, Eloar Guazzelli, Cláu Martin, Rafael Beznos, Daniela Porto, Jesus de Paula Assis, Christine Engelberg, Kiki Jaguaribe, Eva Uviedo, Ana Paula Albé, Rúbia Paião, Daniel Dias, Paulo Scott, Ale Marder + Felipe Morozini, Margarida Girão e Rebeca Lenize Stumm. O PKN é uma forma de criticar a modorra imposta pelas apresentações de PowerPoint, que geralmente duram mais do que a paciência normal comporta. É também uma forma de tirar as pessoas de frente de seus computadores para fazê-las interagir na vida real, realizando o que o grande ciberneticista britânico Gordon Pask chamava de Teoria da Conversação. Os MCs do PKN-SP serão Paulo Scott e André Czarnobai (a.k.a. Cardoso), os dois responsáveis pelo PKN-PoA, a primeira cidade brasileira a receber a franquia de Tóquio.
29.6.08
Nós, Robôs
O artista irlandês Ruairi Glynn monta seu ecossistema de robôs no mezzanino do Itaú Cultural. A obra Performative Ecologies é parte da quarta edição da bienal internacional de arte e tecnologia Emoção Art.ficial que, esse ano, explora o tema da emergência (na acepção científica).
Nem Daleks, nem Terminators. Os robôs de Ruairi são amigáveis e reconhecem as pessoas quando são reconhecidos, performando comportamentos inusitados.
Nem Daleks, nem Terminators. Os robôs de Ruairi são amigáveis e reconhecem as pessoas quando são reconhecidos, performando comportamentos inusitados.
9.6.08
Ópera Chinesa
Algo de muito significativo aconteceu no National Art Museum of China (NAMOC), China (imagem acima). O sucesso de OP_ERA: Sonic Dimension entre público e organizadores superou qualquer expectativa. Para dar uma idéia, a artista Rejane Cantoni foi convidada de última hora para falar por todos os artistas da exposição Synthetic Times: Media Art China 2008 na cerimônia de abertura (imagem abaixo). É a arte tecnológica brasileira impressionando o povo que mais impressiona o mundo globalizado.
Abaixo, uma obra do lendário Stelarc, que participa também da exposição, evento cultural que antecede as olimpíadas de 2008. O artista australiano, como alguns conhecem, trabalha na fronteira entre humano e pós-humano.
Abaixo, uma obra do lendário Stelarc, que participa também da exposição, evento cultural que antecede as olimpíadas de 2008. O artista australiano, como alguns conhecem, trabalha na fronteira entre humano e pós-humano.
6.6.08
Síndrome da China
O Itaulab está neste exato momento em Pequim, auxiliando a artista Rejane Cantoni na montagem da obra OP_ERA: Sonic Dimension para a exposição Synthetic Times. O espírito olímpico que tomou conta da China transbordou para a arte tecnológica. Stay tuned.
16.5.08
Crash
A arte contemporânea em alguns momentos sofre de falta de imaginação, dando margem para instalações de péssimo gosto, como o suposto cão morrendo de fome do costarriquenho Guillermo Vargas, conhecido como “Habacuc” (como foi constatado depois, o cachorro não morreu de fome, mas sim fugiu numa distração do vigilante do museu; aliás, nem era a intenção do artista deixar o cachorro morrendo de fome; ele foi mais uma vítima dos linchadores de plantão). Mas há sempre alguém disposto a ser a tábua de salvação, como é o caso de Jonathan Schipper com sua instalação Slow Inevitable Death of American Muscle, uma batida de frente em slow-motion. Como era de se esperar, muita gente torceu o nariz. Conceitualmente, é impecável. No mínimo, ballardiana.
3.5.08
Viral Livresco
Nova (nova?) tática de divulgação de zines: inseri-los em meio a produtos livrescos. Esse acima, por exemplo, foi encontrado entre as páginas de um livro sobre Gordon Matta-Clark durante uma atividade de tachiyomi na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo. Apesar de contar com o acaso, é viral no último.
16.4.08
Pecha Kucha Night em São Paulo!
Finalmente conseguimos a franquia do Pecha Kucha Night para a cidade de São Paulo, um novo formato de simpósio criado em 2003 por Astrid Klein e Mark Dytham, da Klein Dytham Architecture. A primeira cidade no Brasil a receber a franquia foi Porto Alegre, graças aos esforços de Paulo Scott e André Czarnobai (aka Cardoso). O Itaulab foi até os pampas para participar do terceiro volume, em 9 de dezembro do ano passado (slides e script).
Começamos a circular um e-mail viral conclamando possíveis interessados em participar dessa aventura, com direito a subir no palco principal do Instituto Itaú Cultural em São Paulo no próximo mês de Julho. É uma boa oportunidade para criativos escondidos saírem de suas cavernas no Afeganistão e mostrarem uma Grande Idéia.
Aqui está o texto do viral. Copiem e divulguem. Bombem as suas redes sociais!
Vivemos numa época em que o tempo tende a contrair-se, e não se dilatar. Tudo é fugaz, “tempus fugit”. Por isso, brevidade é fundamental hoje em dia. É conhecida a “boutade” do elevador: se você não conseguir resumir seu projeto no percurso entre o térreo e, digamos, o sexto andar do prédio de sua empresa, a sua idéia não vale nada. É também famosa a opinião do escritor argentino Jorge Luis Borges de que as melhores histórias da literatura mundial nasceram de argumentos incrivelmente curtos, resumidos em no máximo duas linhas.
Pecha Kucha Night (PKN) chega em Julho a São Paulo através do Instituto Itaú Cultural. Trata-se de uma mistura de apresentação de portfólio e “poetry slam”, em que os inscritos selecionados têm exatamente 6 minutos e 40 segundos para apresentar suas idéias criativas para um público variado. As regras são rígidas e os MCs não permitem desvios. Ensaie direito, lembre-se de Borges e do elevador que tudo sairá bem. Mas antes de tudo, seja breve.
Ficou instigado? Maiores informações sobre o que é exatamente isso, como funciona, como participar, etc. estão em http://tinyurl.com/6ahj48
Feliz PKN-SP!
UPDATE (17/04): Wagner Tamanaha, viral wizard, criou no Orkut a comunidade Pecha Kucha Night Brasil. Valeu, meu caro! Agora o virus é uma Influenza!
UPDATE (18/04): Luiz Yassuda escreveu, em 30/01/2008, um esclarecedor post sobre o que é Pecha Kucha. Há nos comentários, claro, os céticos. Por sorte, há os contra-argumentos.
UPDATE (1/05): Paul Baron, da AQ, oferece *excelentes* dicas de como ser um rei (ou uma rainha) do Pecha Kucha (via ConsultorTI).
Começamos a circular um e-mail viral conclamando possíveis interessados em participar dessa aventura, com direito a subir no palco principal do Instituto Itaú Cultural em São Paulo no próximo mês de Julho. É uma boa oportunidade para criativos escondidos saírem de suas cavernas no Afeganistão e mostrarem uma Grande Idéia.
Aqui está o texto do viral. Copiem e divulguem. Bombem as suas redes sociais!
Vivemos numa época em que o tempo tende a contrair-se, e não se dilatar. Tudo é fugaz, “tempus fugit”. Por isso, brevidade é fundamental hoje em dia. É conhecida a “boutade” do elevador: se você não conseguir resumir seu projeto no percurso entre o térreo e, digamos, o sexto andar do prédio de sua empresa, a sua idéia não vale nada. É também famosa a opinião do escritor argentino Jorge Luis Borges de que as melhores histórias da literatura mundial nasceram de argumentos incrivelmente curtos, resumidos em no máximo duas linhas.
Pecha Kucha Night (PKN) chega em Julho a São Paulo através do Instituto Itaú Cultural. Trata-se de uma mistura de apresentação de portfólio e “poetry slam”, em que os inscritos selecionados têm exatamente 6 minutos e 40 segundos para apresentar suas idéias criativas para um público variado. As regras são rígidas e os MCs não permitem desvios. Ensaie direito, lembre-se de Borges e do elevador que tudo sairá bem. Mas antes de tudo, seja breve.
Ficou instigado? Maiores informações sobre o que é exatamente isso, como funciona, como participar, etc. estão em http://tinyurl.com/6ahj48
Feliz PKN-SP!
UPDATE (17/04): Wagner Tamanaha, viral wizard, criou no Orkut a comunidade Pecha Kucha Night Brasil. Valeu, meu caro! Agora o virus é uma Influenza!
UPDATE (18/04): Luiz Yassuda escreveu, em 30/01/2008, um esclarecedor post sobre o que é Pecha Kucha. Há nos comentários, claro, os céticos. Por sorte, há os contra-argumentos.
UPDATE (1/05): Paul Baron, da AQ, oferece *excelentes* dicas de como ser um rei (ou uma rainha) do Pecha Kucha (via ConsultorTI).
4.4.08
Cibercelebração
O coletivo belga LAb[au], liderado por Els Vermang, inaugura no próximo dia 10, em Bruxelas, a exposição cybernet.IC.s. O grupo simplesmente caiu nas graças da viúva de Nicolas Schöffer, um dos mais representativos artistas da primeira metade do século passado e pioneiro da chamada arte cibernética (e também da videoarte). Serão apresentadas três das esculturas “Microtemps” – ainda perfeitamente funcionais (ver imagem acima) – e uma rara série de guaches. “Ela viu certa vez o nosso trabalho e nos convidou para fazermos uma espécie de homenagem ao marido. Claro que a gente não resistiu”, disse ao blog a mais que bacana líder do grupo. Abre a mostra uma palestra de Eléonore de Lavandeyra Schöffer, que agora chama os integrantes do grupo de “netos”. “Ela está com a idade avançada, mas tem uma energia incrível. É tudo o que uma mulher sonha em ser quando ficar mais velha”, confessa Els. Seminal. Fundamental. Fenomenal.
29.3.08
Design Inteligente
Um galpão no Bom Retiro, aparentemente voltado para um local de reserva técnica, tornou-se o novo espaço de exposições da Fortes Vilaça. E as donas não estavam de brincadeira: inauguraram o local com a exposição “God is Design”, com curadoria de Neville Wakefield, do PS1, área de arte contemporânea do MoMA de Nova York. O blog se deslocou até a Rua James Holand, 71, com o intuito de degustar não o coquetel, mas a obra "Persus" (1986), de John Mccracken, expoente da arte minimalista norte-americana. Surpreendentemente, o monocromo amarelo pintado à mão sobre madeira estava "apenas" encostado sobre uma parede, sem estar banhado por nenhum artifício luminoso do tipo "luzes da ribalta", diferentemente do que foi realizado com perfeição na Documenta 12 (veja acima a obra “Orchid”, de 1991). Sem problemas; só o fato de Mccracken estar presente já é a glória. Outra surpresa foi conhecer a simpática artista polonesa Agnieszka Kurant, cuja obra consistia de um fictício jornal New York Times de 2020 impresso em papel térmico, um material impregnado com uma substância química que muda de cor quando exposto ao calor.
UPDATE (30/03): Lá estava também Aleksandra Mir com uma seção de colagens nas quais são acopladas iconografias religiosas e imagens da corrida espacial. Nada que já não houvesse sido feito: meio déjà vu. Segundo consta Claire Bishop, na Artforum de dezembro passado, a artista se superou mesmo foi com Newsroom 1986-2000, atividade ocorrida ano passado na Mary Boone Gallery, em Nova York. Atividade? Sim. Munidos com canetas de ponta porosa, dúzias de “assistentes” copiaram no local da exposição as primeiras páginas de centenas de tablóides publicados no período disposto no título. Desmistificação do papel da mídia e neutralização do pespego a que ela nos acomete diariamente. Gênio!
UPDATE (30/03): Lá estava também Aleksandra Mir com uma seção de colagens nas quais são acopladas iconografias religiosas e imagens da corrida espacial. Nada que já não houvesse sido feito: meio déjà vu. Segundo consta Claire Bishop, na Artforum de dezembro passado, a artista se superou mesmo foi com Newsroom 1986-2000, atividade ocorrida ano passado na Mary Boone Gallery, em Nova York. Atividade? Sim. Munidos com canetas de ponta porosa, dúzias de “assistentes” copiaram no local da exposição as primeiras páginas de centenas de tablóides publicados no período disposto no título. Desmistificação do papel da mídia e neutralização do pespego a que ela nos acomete diariamente. Gênio!
27.3.08
Cinema e Arte Contemporânea
Há dois bons motivos para se ir à exposição Colateral 2, no SESC Avenida Paulista: “Kristall”, de Christoph Girardet e Matthias Muller, e “The Jungle Book Project”, de Pierre Bismuth. O primeiro é uma primorosa edição de copiões dos anos 40-60 na qual é desenvolvida uma narrativa com cenas de diversos atores se vendo em espelhos. Uma trilha sonora de andamento tétrico torna o resultado final inquietante, e nem é preciso citar Borges: os espelhos são assustadores apenas por refletirem aspectos sombrios da natureza humana, como culpas imperdoáveis, perdas de identidade e dúvidas pronominais. No segundo trabalho, os personagens do clássico da Disney (baseado em história de Rudyard Kipling) são dublados por vozes pronunciadas em diversas línguas, uma cacofonia lingüística que proporciona estranhamentos antropológicos. Mais do que isso: a língua artificial faz-nos voltar a crer num animismo no qual animais e humanos compartilham uma mesma Cultura e, por conseguinte, uma mesma alma. Em termos gerais, o SESC promoveu uma exposição sobre como a arte contemporânea se apropria das linguagens cinemáticas em suas expressões. Um conceito mais ousado foi usado na exposição Fate of Alien Modes, que aconteceu em 2003 na Secession, em Viena. Neste caso, foi preferida a diegese ao invés da mimese, explicando, o curador optou não por mostrar as apropriações e conflitos entre arte e cinema, mas sim narrá-los, seja por meio dos modos de produção cinematográfica, seja por meio dos sub-textos inerentes.
17.3.08
Autoria como Gênero
Como visitar exposições de arte sem sair do sofá? Não é uma pergunta absurda considerada a dificuldade cada vez maior de deslocamento de corpos físicos (crise aérea, terrorismo, etc.) e, claro, limitações de ordem financeira. Há que se criar, portanto, uma metodologia para resolver o problema, sem que isso provoque um choque de realidade. Google Book, YouTube, Flickr, Tachiyomi e compra de catálogos são algumas soluções – paliativas, diga-se. Mas é o que há disponível. Quem não gostaria de ir ao Museum of Contemporary Art, em Los Angeles, para ver ao vivo os produtos de Kakai & Kiki na individual de Murakami? E há tantas outras! Há uma especifica que, por si só, já valeria a entrega da prometida metodologia: Shandyismus - Autorship as Genre, que aconteceu no ano passado na galeria Secession, em Viena (neste caso, só a nossa metodologia salva). Quem imaginaria uma exposição de arte contemporânea tendo como ponto de partida o livro "A Vida e as Opiniões do Cavaleiro Tristram Shandy", de Laurence Sterne, o pai da prosa satírica do século 18? O livro já foi filmado pelo diretor Michael Winterbottom (reconhecido por ele mesmo como "infilmável"), mas o curador Helmut Draxler deu um passo além. Aparentemente, o conceito resolver-se-ia na digressão miscelânica, uma das características do autor irlandês; numa visão mais atenta, porém, nota-se que o que o curador propôs foi uma reflexão sobre as relações entre autor e público, tendo como base os diversos loops cibernéticos que ocorrem por meio de referências, alusões e correspondências entre os pólos de emissão e recepção (Cf. Lynne Cooke, Artforum, dezembro, 2007). Houve também uma reavaliação da "estética curatorial", expressão criada pelo artista Ricardo Basbaum em referência às intervenções do curador Roger M. Buergel na Documenta 12. De certa forma não foi exatamente isso que Sterne perpetrou com a quebra de um cânon formal, a qual só foi possível devido aos avanços da tecnologia tipográfica da época? Antes de tudo, os trabalhos presentes na exposição de Draxler foram o triunfo da “linguagem metalógica”. Para dar legibilidade à metodologia proposta no início do parágrafo, faz-se necessário comentar algumas das obras, numa espécie de “test-drive” conceitual.
“Duck Amuck”, desenho animado realizado em 1951 por Chuck Jones, é puro pop-surrealismo. A premiadíssima animação da Warner Bros. mostra o Patolino sendo “abusado” pelo cartunista, que a todo o momento altera sua forma e os contextos da história, a ponto de o personagem se dirigir ao seu criador solicitando mais coerência, num diálogo que remete às vozes narrativas do clássico de Sterne se dirigindo aos leitores. Neste sentido, o desenho animado de Jones é “shandynesco” ao extremo.
“Th’ Life an’ Opinions of Tristram Shan’y, Juntleman, as enny fool kin plainly see. Voloom I” foi uma intervenção feita pelo artista David Jourdan, que fez uma leitura de dois capítulos do livro de Sterne modificados pelo The Dialectizer, um software que transforma qualquer texto em inglês no dialeto falado pelos personagens da famosa HQ “Ferdinando e a Família Buscapé”, criado por Al Capp na década de 60.
“Boîte-en-Valise”, de Marcel Duchamp, é um “mini-museu itinerante”, na verdade, uma série de malas contendo sessenta e nove reproduções em miniatura de célebres trabalhos do artista, entre eles: “Broyeuse de Chocolat” e “L.H.O.O.Q”. Tirante o fato de sugerir uma discussão sobre a originalidade de obras de arte (bricolagem de bricolagens), o conjunto é uma extravagante autoparódia, recurso caro ao satirista irlandês que fundamenta a exposição.
"With Elements of Web 2.0", de Olia Lialina e Dragan Espenschied, é uma série de silkscreens e impressões digitais aplicadas sobre alumínio inspirada em ícones e grafismos bem familiares aos navegantes da Web. O díptico “Dimension”, por exemplo, replica a ferramenta de controle do Google Maps. Ao retratar elementos iconográficos da Web com uma abordagem quase religiosa, os dois artistas propõem novas encenações de velhos cultos. Referência aos asteriscos, travessões e outros sinais diacríticos presentes ao longo do texto de Sterne?
“Le Drapeau Noir. Tirage illimité” (1968), de Marcel Broodthaers, é fruto de um manifesto neo-vanguardista na forma de duas cartas abertas (“Académie III” e "Le noir et le rouge") cujos textos derivaram para uma série de placas em alto-relevo (depois chamadas de “pinturas”). A carta "Académie III" foi alterada para "Académie II" na versão negra (em negativo) da primeira placa, enquanto "Académie II" se tornou o título de um conjunto branco (em positivo) da versão em negativo. Todas elas foram apregoadas como sendo parte de uma "edição limitada" (sete cópias) para questionar a democratização dos objetos de arte pela mera reprodutibilidade técnica (Benjamin e Sterne dando as mãos). Na segunda carta (e placas subseqüentes), de cunho mais político, são listadas as cidades onde se deram os movimentos radicais da década de 60. (Cf. "Neo-Avantgarde and Culture Industry", Benjamin H. D. Buchloh)
Um dos diagramas dispostos na obra mais prematuramente pós-moderna que já existiu. É parte do capítulo quatro, do Volume IX, em que o cabo Trim mostra ao Tio Toby as mazelas da vida matrimonial “enquanto o homem é livre”, segundo a linha errática desenhada pelo floreio de seu bastão.
Pôster do filme "Pickpocket" (1959) de Robert Bresson, feito por Hans Hillmann, considerado o fundador desse tipo de arte gráfica na Alemanha. Aqui resta-nos levantar algumas questões sobre a amplitude metalingüística da peça: Bresson cita “Crime e Castigo”, de Dostoievski, e o protagonista do filme cita “Prince of Pickpockets”, de George Barrington; mas a quem Hillmann estaria citando? Ou a corrente referencial engloba apenas Hillmann que, num universo paralelo, seria um batedor de carteiras?
“Dokumentation über Marcel Duchamp” (1960), de Max Bill, pôster de mostra individual de Duchamp no Kunstgewerbemuseum, em Zurique. Mais um caso de artista citando outro artista.
"Washington D.C.” (1966), de Robert Frank. Aqui o fotógrafo cita o fotojornalista. Não seria o caso de o curador ter colocado imagens de “The Robert Frank Coloring Book" coloridas por outros artistas e fotógrafos? Fica a título de sugestão. Cenograficamente, o trabalho de Frank ficou disposto sobre a aplicação do texto de introdução do Volume IX, titulado “Dedicatória a um Grande Homem”.
A lista prossegue com o coletivo Bernadette Corporation, Martin Kippenberger, Jutta Koether e tantos outros artistas que trafegaram (ou trafegam) no limiar entre autoria simples e composta e que não pensavam (ou pensam) duas vezes antes de se fartarem com digressões e food for thought (numa livre tradução: ração para cavalos do motor mental). É sem dúvida uma exposição que sobrepujou a ortodoxia da problemática autoral, sem apelar para os tradicionais jogos dialéticos entre autor e “cliente”. Com relação ao método de visitar exposições sem sair do sofá, o blog roga para que a brincadeira não seja levada tão a sério; afinal, nada como visitá-las in loco. Foi apenas uma breve recaída na ontologia platônica.
“Duck Amuck”, desenho animado realizado em 1951 por Chuck Jones, é puro pop-surrealismo. A premiadíssima animação da Warner Bros. mostra o Patolino sendo “abusado” pelo cartunista, que a todo o momento altera sua forma e os contextos da história, a ponto de o personagem se dirigir ao seu criador solicitando mais coerência, num diálogo que remete às vozes narrativas do clássico de Sterne se dirigindo aos leitores. Neste sentido, o desenho animado de Jones é “shandynesco” ao extremo.
“Th’ Life an’ Opinions of Tristram Shan’y, Juntleman, as enny fool kin plainly see. Voloom I” foi uma intervenção feita pelo artista David Jourdan, que fez uma leitura de dois capítulos do livro de Sterne modificados pelo The Dialectizer, um software que transforma qualquer texto em inglês no dialeto falado pelos personagens da famosa HQ “Ferdinando e a Família Buscapé”, criado por Al Capp na década de 60.
“Boîte-en-Valise”, de Marcel Duchamp, é um “mini-museu itinerante”, na verdade, uma série de malas contendo sessenta e nove reproduções em miniatura de célebres trabalhos do artista, entre eles: “Broyeuse de Chocolat” e “L.H.O.O.Q”. Tirante o fato de sugerir uma discussão sobre a originalidade de obras de arte (bricolagem de bricolagens), o conjunto é uma extravagante autoparódia, recurso caro ao satirista irlandês que fundamenta a exposição.
"With Elements of Web 2.0", de Olia Lialina e Dragan Espenschied, é uma série de silkscreens e impressões digitais aplicadas sobre alumínio inspirada em ícones e grafismos bem familiares aos navegantes da Web. O díptico “Dimension”, por exemplo, replica a ferramenta de controle do Google Maps. Ao retratar elementos iconográficos da Web com uma abordagem quase religiosa, os dois artistas propõem novas encenações de velhos cultos. Referência aos asteriscos, travessões e outros sinais diacríticos presentes ao longo do texto de Sterne?
“Le Drapeau Noir. Tirage illimité” (1968), de Marcel Broodthaers, é fruto de um manifesto neo-vanguardista na forma de duas cartas abertas (“Académie III” e "Le noir et le rouge") cujos textos derivaram para uma série de placas em alto-relevo (depois chamadas de “pinturas”). A carta "Académie III" foi alterada para "Académie II" na versão negra (em negativo) da primeira placa, enquanto "Académie II" se tornou o título de um conjunto branco (em positivo) da versão em negativo. Todas elas foram apregoadas como sendo parte de uma "edição limitada" (sete cópias) para questionar a democratização dos objetos de arte pela mera reprodutibilidade técnica (Benjamin e Sterne dando as mãos). Na segunda carta (e placas subseqüentes), de cunho mais político, são listadas as cidades onde se deram os movimentos radicais da década de 60. (Cf. "Neo-Avantgarde and Culture Industry", Benjamin H. D. Buchloh)
Um dos diagramas dispostos na obra mais prematuramente pós-moderna que já existiu. É parte do capítulo quatro, do Volume IX, em que o cabo Trim mostra ao Tio Toby as mazelas da vida matrimonial “enquanto o homem é livre”, segundo a linha errática desenhada pelo floreio de seu bastão.
Pôster do filme "Pickpocket" (1959) de Robert Bresson, feito por Hans Hillmann, considerado o fundador desse tipo de arte gráfica na Alemanha. Aqui resta-nos levantar algumas questões sobre a amplitude metalingüística da peça: Bresson cita “Crime e Castigo”, de Dostoievski, e o protagonista do filme cita “Prince of Pickpockets”, de George Barrington; mas a quem Hillmann estaria citando? Ou a corrente referencial engloba apenas Hillmann que, num universo paralelo, seria um batedor de carteiras?
“Dokumentation über Marcel Duchamp” (1960), de Max Bill, pôster de mostra individual de Duchamp no Kunstgewerbemuseum, em Zurique. Mais um caso de artista citando outro artista.
"Washington D.C.” (1966), de Robert Frank. Aqui o fotógrafo cita o fotojornalista. Não seria o caso de o curador ter colocado imagens de “The Robert Frank Coloring Book" coloridas por outros artistas e fotógrafos? Fica a título de sugestão. Cenograficamente, o trabalho de Frank ficou disposto sobre a aplicação do texto de introdução do Volume IX, titulado “Dedicatória a um Grande Homem”.
A lista prossegue com o coletivo Bernadette Corporation, Martin Kippenberger, Jutta Koether e tantos outros artistas que trafegaram (ou trafegam) no limiar entre autoria simples e composta e que não pensavam (ou pensam) duas vezes antes de se fartarem com digressões e food for thought (numa livre tradução: ração para cavalos do motor mental). É sem dúvida uma exposição que sobrepujou a ortodoxia da problemática autoral, sem apelar para os tradicionais jogos dialéticos entre autor e “cliente”. Com relação ao método de visitar exposições sem sair do sofá, o blog roga para que a brincadeira não seja levada tão a sério; afinal, nada como visitá-las in loco. Foi apenas uma breve recaída na ontologia platônica.
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